sábado, 27 de julho de 2024

Sete-lagoana descreve como foi morar em Israel: “Me senti muito mais segura do que no Brasil”

Sete-lagoana fala sobre sua vivência em Israel e afirma que, apesar da guerra, o clima de tensão não é permanente no país

A engenheira agrônoma Maíra Ferman Campolina Ávila, nasceu em Belo Horizonte, mas se considera sete-lagoana de coração, visto que morou na cidade quando ainda tinha apenas um ano de idade e foi criada. Ela morou em Israel durante cinco meses, quando participou de um programa de intercâmbio destinado a judeus, visto que ela é da família Ferman, onde têm raízes em Sete Lagoas.

Em entrevista, Maíra Ferman (foto) faz uma análise da situação pela qual passa o país, onde milhares pessoas já morreram no conflito envolvendo o grupo terrorista Hamas. Para ela, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é conhecido por tomar medidas legais impopulares com relação aos árabes. “Porém, nada justifica os ataques que estão sendo feitos a Israel, tampouco os que já foram feitos ao longo da história”, afirma.

“Não se busca igualdade de direitos políticos matando pessoas inocentes. Na minha opinião, uma causa deixa de ser legítima, quando lança mão de violência. Além do mais, o Hamas não representa o Estado da Palestina. É um grupo terrorista ao qual, inclusive, a maioria dos palestinos temem”, completa Maíra, que atualmente é Assessora Técnica da Secretaria de Agricultura do Governo de Minas Gerais e mora em Belo Horizonte. 

Como foi sua experiência em Israel e quanto tempo?
Morei em Israel durante cinco meses. De setembro de 2022 a fevereiro de 2023. 

Fui através de um programa de intercâmbio para judeus. O programa envolve estudo religioso; curso de hebraico; passeios por Israel; uma viagem internacional e estágio na área de formação.  Morei em uma Midrashá (casa feminina de estudos da Tora) em Jerusalém. 

Fiz estágio como assistente de pesquisa, na startup israelense Lavie Bio, localizada em Rohovot. Minha experiência em Israel foi a melhor possível. Tenho familiares por lá e fiz muitos amigos. Como tenho direito à nacionalidade israelense, penso em um dia voltar a morar lá por um tempo.

O clima de tensão é permanente no país? Mesmo antes dessa guerra mais recente?

O clima de tensão não é permanente. Ao longo da história tem-se longos períodos sem conflitos. Inclusive enquanto estive lá, estava bem tranquilo. Na verdade, morando em Israel, me senti muito mais segura do que aqui no Brasil. O índice de criminalidade em algumas cidades é tão baixo ou zero que postos policiais chegaram a ser desativados. No dia a dia, não há essa tensão. 

Com relação aos ataques, ocorreram fatos isolados, como a explosão de pontos de ônibus em Jerusalém, após Benjamin Netanyahu assumir como primeiro-ministro, em dezembro de 2022. Inclusive explodiram um ponto de ônibus próximo à casa em que eu morava. Até que ponto isso deve-se à postura política de Benjamin Netanyahu, não sei. Seu governo é conhecido por tomar medidas legais impopulares com relação aos árabes. Porém, nada justifica os ataques que estão sendo feitos a Israel, tampouco os que já foram feitos ao longo da história. Não se busca igualdade de direitos políticos matando pessoas inocentes. Na minha opinião, uma causa deixa de ser legítima, quando lança mão de violência. Além do mais, o Hamas não representa o Estado da Palestina. É um grupo terrorista ao qual, inclusive, a maioria dos palestinos temem.

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A cidade onde Maira fazia estágio, Rehovot, foi uma das atacadas pelo Hamas

Como é a relação daquele povo com os brasileiros?

É uma relação normal. São receptivos e nos respeitam. 

E com os palestinos, como é a relação com brasileiros e demais nacionalidades?

Mesma coisa, também nos tratam bem. Convivi com israelenses, americanos, mexicanos, árabes e outras nacionalidades e nunca passei por nenhuma situação de xenofobia. 

Quais são os costumes e principais atrativos do país e porque atrai tanta gente de outras nacionalidades?

O Estado de Israel, de modo geral, segue as tradições judaicas. Então, os costumes do país estão, em sua maioria, ligados ao judaísmo. Nos feriados judaicos, como Yom Kippur, são seguidas as tradições religiosas. O comércio não abre e o transporte público para. No Shabat (fim da tarde de sexta até fim da tarde de sábado) o transporte público em algumas cidades pára e em outras fica com horários reduzidos e muitas lojas também não funcionam. 

Israel é cenário de muitos acontecimentos bíblicos e é berço de muitas religiões. Isso por si só já torna o país um grande atrativo turístico. É muito especial estar na terra onde se passou grande parte da história da humanidade. Além disso, Israel possui cidades lindas e praias muito belas também.

Uma curiosidade é que cada elemento da natureza é representado por uma cidade em Israel, sendo Jerusalém a representante do fogo. Por isso as construções, em sua maioria, são claras. Daí refletem a luz do sol e ficam douradas, como o fogo. 

Embora seja um país de apenas 71 anos (se não me engano), é muito desenvolvido tecnologicamente. Sua economia é pujante. Tem um custo de vida caro, mas tem oportunidade de emprego. Acredito que isso também atrai as pessoas.

Tem amigos em situação de risco, perdeu alguém que conheceu por lá?

Tenho muitos amigos em Israel. Alguns sim, estão em situação de risco e outros não. Isso porque algumas cidades não estão sendo atacadas, por enquanto, então, a princípio, estão bem. Tenho uma prima que é ex-porta voz do exército, mas ela está bem e não corre risco iminente.

Não perdi nenhum amigo e nem familiar, graças a D’us, mas conheço pessoas que foram feridas nesse confronto. A exemplo do Rafael Zimmerman. Quando morei em Israel, ele também morava em uma casa masculina de estudos da Torá. 

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 Cidade de Jerusalém atrai o turismo religioso

É um conflito sem fim? O que acha, pela sua vivência e experiência em Israel?

Com relação ao conflito atual enxergo como algo sem solução, pois não há como negociar com terroristas. Como já mencionei anteriormente, o Hamas é um grupo terrorista que não representa a Palestina. Se eles quisessem conversar, teriam buscado um diálogo inicialmente e não matado centenas de pessoas inocentes. Fato é que o Hamas tem a intenção de tornar todo o Estado de Israel um estado Islâmico e não há negociação para eles quanto a isso. Acreditam que justifica matar e cometer atrocidades em nome desse objetivo. São antissemitas assumidos. O Hamas usa da narrativa “Palestina Livre” para legitimar suas atitudes, mas a verdade é que, se você visitar ou mesmo conversar com um árabe  Palestino, verá que as pessoas temem o Hamas. 

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 Maíra na tumba do Rei Davi 

Com relação à briga territorial entre Palestina e Israel, também tenho dúvidas sobre uma possível solução, pois vários acordos já foram propostos para divisão dessas terras e, sempre, uma das partes ficou insatisfeita. Então, fica difícil acreditar em uma resolução para essa situação. Pelo menos em um futuro próximo. 

Mas rezo pelo restabelecimento da paz e pela convivência harmônica entre os povos. Por enquanto parece utópico, mas quem sabe um dia teremos um mundo sem intolerâncias, seja ela religiosa, de gênero ou racial? Que HaShem nos proteja e que o ser humano possa evoluir!