E o Cuca, hein!? Quase acabam com a vida dele, e ninguém paga por isso!
Aprendi na Faculdade de Direito e tento aplicar no jornalismo: In dubio pro reo (na dúvida, a favor do réu). É o princípio jurídico da presunção da inocência. Na ausência ou insuficiência de provas, o acusado não pode ser condenado.
Agora, só falta quem o linchou moralmente na mídia convencional e redes sociais, ir pra justiça suíça pedir para que o caso seja reaberto. Trecho da reportagem da Folha de S. Paulo sobre o assunto hoje, diz “Assim, Cuca não foi inocentado no mérito…”. Outros ainda o acusam de não ter falado “abertamente” sobre o assunto e qual teria sido a participação dele. Como não? No dia 20 de abril, na apresentação dele como técnico do Corinthians, falou sobre tudo, deu detalhes. Inclusive a própria Folha registrou.
Foi um dos maiores excessos e covardias que já vi a imprensa cometendo contra um profissional. Agora, para não darem o braço a torcer, veem com cretinices como essa de que ele não foi “inocentado”.
Para quem não se lembra, a memória eletrônica está aí para reavivar. No dia 21 de abril do ano passado, escrevi aqui no blog:
“… A vítima não o reconheceu como um dos estupradores, em três depoimentos. Ele foi condenado por fora julgado à revelia, pois o Grêmio, seu clube da época, não se mexeu e ele não tinha cabeça nem dinheiro para tomar as providências que deveria tomar.
Isso há 36 anos. Como o assunto parecia ter morrido ele não se pronunciava sobre isso. Nem mais recentemente, quando começou ser questionado. Foi o seu grande erro, pois a desinformação geral o transformou num monstro. Afinal, foi condenado. Parece que, injustamente, mas enfrenta as consequências de não ter esclarecido e nem se defendido juridicamente, já que a condenação existiu.
Grande parte da coletiva de apresentação dele pelo Corinthians, hoje à tarde, foi sobre isso:
“Eu não sou do mal; eu não sou bandido; não sou culpado de nada. Sou inocente. Tenho minha consciência tranquila, durmo tranquilo. Eu sou uma pessoa decente, acima de tudo. Minha bandeira sempre foi a correção”
“Subiu uma menina para o quarto em que eu estava com mais três jogadores. Eram duas camas de casal. Essa foi minha participação. Sou totalmente inocente; tenho uma lembrança muito vaga, porque faz muito tempo. O quarto era em formato de L; você não sabe, você não vê”.
“O mais importante não é a palavra da vítima? Ela falou: ‘Eu não o conheço, não vi, não estava’. Foram três vezes. A palavra da mulher era que o Cuca não estava lá. Como posso ser condenado? Pelo quê?”
Segundo a Folha de S. Paulo, Cucaa foi “… liberado ao fim da fase de instrução no processo… voltou ao Brasil. No julgamento, teve sentença de 15 meses de prisão e pagamento de US$ 8.000, mesma pena aplicada a Henrique e Eduardo. Fernando foi considerado cúmplice e condenado a três meses de prisão, com multa de US$ 4.000… não foi à Suíça para se defender nem para cumprir a pena estipulada…”
“Eu era um quebrado, tinha 23 anos, não tinha dinheiro para pegar o voo. Fiquei sabendo que fui condenado, coisa de um ano depois. Se eu pudesse voltar ao passado, iria lá. Pronto. Já estou absolvido”
“Por que devo desculpa para a sociedade se eu não fiz nada? A vida passou quase 37 anos. Joguei aqui do lado, treinei vários times, nunca fui questionado. Nos últimos dois anos, a coisa mudou. O mundo mudou, de um jeito melhor, a mulher tem uma defesa muito maior, e sou parte disso, quero isso. Sou pai, sou marido, sou filho. Quero que as mulheres estejam cada vez mais protegidas.”
Ele reconhece que cometeu dois erros: não ter se defendido no processo e não ter falado mais sobre o assunto antes. Sobre o Corinthians, que vai dirigir pela primeira vez, disse:
“Estou energizado. Vou fazer um bom trabalho aqui. Tenho certeza e convicção de que vou fazer um bom trabalho aqui. Hoje, pode ter protesto, e eu vou passar por cima de tudo. Se tiver protesto, vou saber como passar por cima, mas de consciência tranquila. Isso é a maior coisa que um homem pode ter: saúde e paz. Você tendo isso, você dorme tranquilo. Eu durmo tranquilo, graças a Deus.”