sábado, 27 de julho de 2024

Cratera do Santa Luzia só aumenta e Prefeitura ainda aguarda empresa para realizar estudo

Passados quase seis meses, a Prefeitura de Sete Lagoas ainda aguarda orçamento para contratação de empresa para realizar estudo geotécnico para “decifrar” a cratera voltou a abrir no bairro Santa Luzia no dia 6 de junho deste ano.

Cratera só aumenta, mesmo que lentamente

Conhecido antigamente como “buraco de Cecé” – em alusão ao ex-prefeito, quando a cratera abriu pela primeira há 35 anos – a cratera fica na Rua Nestor Foscolo. De acordo com o Secretário Municipal de Obras, Antônio Garcia Maciel, o Toninho Macarrão, até o momento foram feitas obras de drenagem próximo ao local para captação das águas da Nestor Fóscolo. “A Defesa Civil está monitorando o local e não descarta, caso achar necessário, a retirada de moradores. Mas até o momento não foi necessário”, afirmou.

 No dia 6 de junho deste ano o prefeito, juntamente com o secretário Toninho Macarrão, foram até o local e anunciaram a contratação de um estudo

O secretário admitiu que o buraco continua aumentando, mas de maneira mais lenta. “Quanto a investimento e perspectivas, somente após a apresentação do estudo geotécnico. Teremos as respostas técnicas de como e quando poderemos intervir no local, com abertura ou não da via, e fechamento ou não do buraco, pois trata-se de um fenômeno geológico. Também foi realizado o entrocamento de pedras nas laterais para proteger as bordas”, completou Toninho.

A demora para contratação de empresa especializada para analisar o caso, segundo o secretário, se dá pela dependência das empresas procuradas supostamente dependerem de outros outros parceiros para apresentarem os custos do projeto. Em abril, a Prefeitura realizou um estudo superficial que não identificou o motivo da ocorrência. 

Para evitar mais transtornos, o trecho foi refeito e o trânsito liberado parcialmente. Porém, o raio de interdição só aumenta, assim como a cratera “Fizemos uma intervenção para minimizar o transtorno, mas a acomodação do solo continua”, explicou Antônio Garcia Maciel.  Localizado bem em frente ao Estádio do Bela Vista, o cruzamento das ruas Nestor Fóscolo e Tupiniquins está praticamente fechado, com liberação da passagem de pedestre e de um veículo por vez.

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Vídeo do jornalista Chico Maia

“Este abatimento de solo ocorreu com grande gravidade há 35 anos e, recentemente, houve um rebaixamento que deixou a todos apreensivos. Tomamos as medidas emergenciais, mas o abatimento continua e por isso é preciso aprofundar com este estudo. Precisamos de orientação técnica para tomar medidas corretas e deixar a população mais tranquila”, destacou Duílio de Castro em junho deste ano.

Apesar do surgimento de trincas e rachaduras em imóveis localizados na região onde está a cratera, o fenômeno parece não assustar os moradores do local. Para Augusto Pereira, existe o temor da cratera engolir imóveis. “É grave, mas parece que estamos nos acostumando com isso, apesar de muitas residências e comércios estarem bem próximos do buraco. Infelizmente, tem gente que não ajuda, estão jogando lixo lá dentro”, lamentou.

ENTENDA O CASO
No dia 2 de abril deste ano foi registrado um abatimento considerável em parte da pista entre as ruas Nestor Fóscolo de Tupiniquins. Em poucas horas a Prefeitura montou uma força-tarefa para apurar causas e, simultaneamente, realizar reparos emergenciais. 

O abatimento provocou rebaixamento e trincas no asfalto. Em parceria com o SAAE, uma grande cratera foi aberta, mas nenhuma anomalia foi identificada. Todo o trabalho foi acompanhado pela Defesa Civil e Guarda Civil Municipal para garantir a segurança do perímetro e dos imóveis próximos. 

Para evitar alagamentos e acidentes, a cratera foi fechada no início de maio. Porém, em poucos dias um abatimento de menor intensidade foi registrado em parte da rua Nestor Fóscolo. 

ESTUDO DE 1988

A redação teve acesso ao estudo e depoimento do geólogo Adelbani Braz da Silva, de 1988, quando o buraco surgiu pela primeira vez. Naqueles tempos, o caso teve repercussão nacional na imprensa. O trabalho do professor Aldebani mostrava que a caverna “pode chegar a 50m de profundidade”, e que o abatimento do solo poderia se repetir

E ele dizia as causas: “O fenômeno que ocorreu em Sete Lagoas foi de origem natural e não identificou-se qualquer influência antrópica (que resulta de ação humana) no processo… Não foi observada qualquer relação entre os poços tubulares (artesianos) que abastecem a cidade de e a formação da depressão… O modelo teórico da evolução do abatimento de Sete Lagoas mostra inicialmente que houve um desabamento do teto da rocha carbonática da caverna existente no subsolo ou um lixiviamento (movimento de materiais na matriz do solo pelo efeito da água que escorre e causa erosão ou a água que infiltra no solo em direção ao lençol freático) intenso das rochas decompostas sobrepostas à caverna.  Tal lixiviamento teria sido acelerado, talvez, por uma percolação (umidade, quando existe água e ar no interior dos poros) pontual de água que careou o material decomposto da rocha através de fraturas existentes no teto da caverna. Estes fatos geraram uma instabilidade das rochas argilosas sobrepostas à caverna e, consequentemente, originaram pequenas rachaduras verticais. Este rebaixamento, por outro lado, pode ter sido estimulado pelo rebaixamento natural da água subterrânea devido à estiagem prolongada ocorrida no ano anterior…”

Na época, como mostrou o estudo, não se verificou, portanto, ação humana, como explosões de minas, escavações e grandes obras que pudessem causar alguma consequência. Porém, de 1988 até 2023 muita coisa aconteceu na cidade. Começando pela chegada da Iveco, em 1998, uma das maiores montadoras de veículos do mundo. Depois a cimenteira Brennand e a AMBEV com uma das maiores fábricas de cerveja do país. E, mais recentemente, outro fenômeno natural, os tremores, até então inéditos por aqui.

NOVOS ESTUDOS
Em junho deste ano, a CWM Rocha Serviços de Geologia foi contratada, por processo licitatório no valor de R$ 34.200,00, para analisar o perímetro formado pela ligação das ruas Tupiniquins e Nestor Fóscolo, além de um trecho da rua Professora Tarcila do Santos, também no Santa Luzia, onde há uma leve acomodação do piso.

A perfuração realizada pela Prefeitura no início de abril serviu para um estudo superficial que não identificou o motivo da ocorrência. A CWM Rocha Serviços Geológicos deve apurar os motivos do abatimento do solo, bem como o surgimento de trincas e rachaduras em imóveis localizados nos dois locais definidos em contrato.