Ovorini Carpintaria Cênica apresenta espetáculo em Couto de Magalhães de Minas

Obra estrelada e co-dirigida por Alisson Oliveira levanta discussões e reflexões sobre ancestralidade, LGBTfobia, masculinidade tóxica e os diversos abandonos enfrentados por um corpo negro

O Grupo Ovorini Carpintaria Cênica voltou da cidade de Couto de Magalhães de Minas onde apresentou o espetáculo “No Centro da Margem” no 12º Festeje (Festival de Teatro do Vale do Jequitinhonha). O grupo foi à cidade na última sexta-feira, 13, representando Sete Lagoas com apresentações e oficinas ministradas no festival.

“No Centro da Margem” é inspirado no conto “A Terceira Margem do Rio” do escritor mineiro João Guimarães Rosa. O ator e co-diretor Alisson Oliveira se desnuda para falar sobre masculinidade tóxica, os diversos abandonos que um corpo preto enfrenta, além de abordar o abandono paternal como tema central da obra. “A sombra da não-paternidade, por vezes, atravessa a infância dos nossos dias para nos assombrar até o fim deles”, disse Alisson.

Alisson Oliveira, além de ator formado pelo Teatro Universitário da Universidade Federal de Minas Gerais (TU/UFMG), é também poeta e diretor da Ovorini Carpintaria Cênica. As pesquisas para o espetáculo começaram ainda em 2019 através de uma disciplina do TU chamada “Contos e Degustações” com o texto de Guimarães Rosa como sugestão de referência. Com o anseio de colocar algo novo em cena, foi organizado, em 2020, um novo trabalho de pesquisa sobre teatro biográfico com o diretor e dramaturgo Djaelton Quirino. Mas os trabalhos foram interrompidos pela pandemia da COVID-19, voltando ao palco em 2022 em um ensaio aberto com direção de Alex Fabiano, no Teatro Redenção.

“Durante esse processo de pandemia, eu assumi o papel de escrever um novo trabalho falando sobre os vários abandonos sofridos por um corpo gay preto, assumindo totalmente a vulnerabilidade desse ser em cena”, conta o artista.

Para o ator, a experiência no festival foi única e necessária, pois torna possível as trocas de experiências com outros grupos e artistas, além de vivenciar as belezas culturais que as cidades oferecem. Para ele, o sentimento é de dever cumprido. “Ver vários jovens interessados em participar e vivenciar cada oficina ministrada. Ver, durante a semana, os espetáculos sempre cheios, me trás uma forte emoção de dever cumprido. Esses festivais são extremamente necessários para a população e para a movimentação da cidade, financeiramente e culturalmente”, conta.

O espetáculo estreou no Teatro Redenção no dia 30 de setembro, lotando o espaço e discutindo temas pertinentes como ancestralidade e LGBTfobia. A ideia agora, é consolidar o público e levar as reflexões da obra para mais pessoas que, segundo Alisson, têm relatado sobre a falta de eventos e divulgação artísticas nas cidades. “O espetáculo volta para as salas de ensaio durante o mês de outubro para continuar o processo de desenvolvimento e amadurecimento e voltamos com apresentações em novembro em Sete Lagoas e, quem sabe, em outros festivais”.

Em Couto de Magalhães de Minas, os artistas envolvidos no espetáculo também realizaram oficinas teatrais ministradas pelo próprio Alisson, por Alex Fabiano e Erick Pinguim. A direção de “No Centro da Margem” é de Alex Fabiano. Alisson Oliveira é co-diretor e assina também o texto. A dramaturgia é de Djaelton Quirino e fotografias por Dilson Moreira e Gabriel Beltrão. Para mais informações e datas das próximas apresentações, acesse o Instagram do Ovorini (@ovorini).