E lá se foi o querido Marco Antônio Falcone, maior mestre cervejeiro do Brasil | por Chico Maia

Tomando um “chá com torradas” com o Marco Antônio Falcone, no Falke Pub, na Rua Alvarenga Peixoto, 531 – Lourdes, em Belo Horizonte

O Marco estava com 60 anos de idade.

Velório e sepultamento, de 14h30 às 16h30 no Parque da Colina.

Cada um tem seu jeito de lidar com a morte. Morro um pouco a cada notícia da partida de alguém de quem gosto muito. Por mais que saibamos que a única certeza que temos na vida é que todos vamos morrer, nunca nos acostumamos com a informação de que alguém querido se foi.

Neste aspecto, o ano passado foi um dos mais duros da minha vida e quem nos lê aqui, sabe das minhas perdas irreparáveis em 2023. Hoje, às 15h27 o Ronaldo Falcone enviou mensagem informando que o irmão Marco teve uma recaída e estava muito mal na UTI. Às 18h20, outra mensagem com a pior notícia que eu poderia receber e passar neste quinto dia de 2024: o Marco se foi! Cabeça dura, não dava bola para a diabetes que lhe acometeu há uns anos.

No dia 11 de maio do ano passado, ele estava feliz demais com o lançamento da Wave, a sem álcool da Falke. Comemoramos no Falke Pub, obviamente tomando as várias opções com álcool, depois de degustarmos a Wave, pra conhecer.   

Sobre este encontro, escrevi aqui no blog: “Tenho o privilégio de ser amigo do Marco Antônio Falcone desde os tempos do Colégio Roma, em 1979. Nunca, eu, nem os companheiros de escola imaginaríamos que aquele nosso comandante das vias sacras etílicas pelos bares da região da Rua Gonçalves Dias (Funcionários) se tornaria o maior mestre cervejeiro do Brasil, um dos mais respeitados do continente.

Em 2004, o danado criou a Falke Bier, a artesanal que ganhou as prateleiras das melhores casas do ramo do país. Em 2005 tive a honra de ser nomeado por ele, relações públicas honorífico da Falke, por ser um consumidor fiel.

E o Marco fez escola: seus filhos Thiago e Max também fizeram por merecer o reconhecimento e entraram para a galeria dos grandes cervejeiros. Hoje, estão na prateleira de cima. Thiago, na Europa; Max, lançando novidades inacreditáveis por aqui, como a “Peregrinos”, por exemplo, um sucesso reconhecido por experts  e consumidores comuns, como eu…”

Ele com o filho Thiago, conceituado Mestre cervejeiro na Europa

Liderança nata, nos convencia a “matar” as aulas no Roma depois do intervalo para curtir os bares da região do Funcionários, Savassi e adjacências. Claro que quase todos nós tomamos bomba e nos enrolamos para concluir o segundo grau. Depois, cada um se virou nos estudos e nos encaminhamos bem profissionalmente.

A vida distanciou a maioria e ficamos muitos anos sem nos encontrar. Num belo dia, numa visita à redação da Secretaria de Comunicação do governo do estado, na Praça da Liberdade, ouço um berro:

__ Puta que pariu, Chico Maia! Quanto tempo! Está sabendo que o Marco Falcone está produzindo uma ótima cerveja artesanal?

Era o colega de sala no Roma, Toninho Morais, que eu não via há mais de 10 anos, mesmo tempo que eu não via o Marco. Trocamos números de telefones, combinamos de nos encontrar na semana seguinte. Porém, dali, eu atravessaria a Praça para almoçar no Minas 1. Quando chego, uma voz forte, inconfundível grita:

__ Pô, Chico Maia, e esse nosso Galo, hein!?

__ Não acredito que você é o Marco Antônio Falcone! -, respondi

Era coincidência demais reencontrá-lo ali, minutos depois de eu ter notícias dele, depois de tanto tempo em que não nos víamos. Ele estava de boné, artigo que passou a usar depois que a calvice o pegou precocemente, mas mesmo assim o reconheci.

Isso foi em 2004 e a partir daí a amizade foi retomada, como se não tivéssemos nos afastado por tanto tempo.

Uma das pessoas mais inteligentes, íntegras e agradáveis que conheci. Intransigente na defesa de suas convicções, mas de enorme bom senso para reconhecer quando estava equivocado.

Um dos pioneiros no desenvolvimento da cerveja artesanal em Minas, colaborava com todo mundo que se interessava pela área. Não enxergava ninguém do setor como concorrente e sim como colega de atividade para enfrentar as marcas gigantes, cada vez mais poderosas e dominadoras do segmento.

Algumas das marcas Falke Bier

Frequentador assíduo da Cantina do Sorriso, no São Lucas, se tornou nome de prato, como homenagem do dono da casa. Aliás, um dos mais pedidos: arroz, feijão, fritas, espaguete, ovo, salada do dia, porco, frango ou fígado.

Dentre as possibilidades e esperança de que tudo não acabe aqui, neste plano, o Falcone já já estará com o seu pai, Seu Júlio, figura fantástica, que nos deixou em 2021 e com o Toninho Morais, amigo e compadre inseparável dos tempos do Colégio Roma, que se foi prematuramente há sete anos.

Marco com os irmão Ronaldo e a irmã Juliana

Ano passado combinamos um encontro na Europa, pois estaríamos lá na mesma época. Seria no casamento do filho dele, Thiago, também Mestre cervejeiro, em Ghent, na Bélgica, onde vive o Thiago há três anos. Se, por algum motivo, não desse lá, nos encontraríamos em Paris. Acabou que ele retornou antes e não nos encontramos.

Com a companheira de todos os momentos, Mônica e o filho Max,

Na sede da Falke tem esta foto, que o Marco Falcone mandou emoldurar:

eu, com boné e camisa da cervejaria, entre Fernanda Torres e Maitê Proença, durante a Copa da Alemanha em 2006, no estádio do Borússia Dortmund, antes de Brasil x Gana, pelas oitavas de final.

Ele adorava receber amigos e o trade turístico na sede da Falke, em Ribeirão das Neves, como estes:

Da esquerda para a direita, jornalista Sergio Moreira, o promotor de eventos Marcos Valério e Muraí Caetano, dono do Restaurante Xico da Kafua, um dos melhores de Minas.

À esquerda o músico Luciano Macaco, Vitor Braga (ex-goleiro do Cruzeiro), o saudoso Seu Júlio Falcone e o Marco.

Com ele e o publicitário Rômulo Aquino Righi, em um dos nossos últimos encontros, na Cantina do Sorriso, na esquina das ruas Camões com Visconde de Taunay, 263 – São Lucas

Descanse em paz, caríssimo Marco. Como diz o Milton, “qualquer dia a gente se encontra!”.