Parabéns ao Rei, 67. Que honra ter vivido um pouco dessa realeza
Ser repórter e comentarista de futebol era meu sonho, desde os tempos de criança, no Campo do Algodão/Estação Experimental, hoje Embrapa), em Sete Lagoas. Com 11 anos de idade, o hoje saudoso Geraldo Tolentino publicou a minha primeira coluna, “Pílulas Esportivas”, no Jornal do Centro de Minas, atual peça do Museu da cidade. Aos 13, outro Geraldo, o Padrão (que está firme, em seus 85 anos), levou-me para “chefiar” o departamento de esportes da Rádio Cultura. Chefe de mim mesmo, o único funcionário do “departamento”.
Aos 18, outro saudoso, o Gil Costa, buscou-me lá, para a Rádio Capital, que iniciaria as suas atividades em Minas. Era 1979, o início da primeira rede de rádio do Brasil, a Rede Capital de Comunicações, oficialmente de propriedade de um grupo de educação de São Paulo. Dizia-se que era coisa do então governador Paulo Maluf, que estaria montando a sua estrutura para a “iminente” primeira eleição direta para presidente da república, pós regime militar iniciado em 1964.
A nova emissora investiu na contratação dos maiores nomes do rádio de Belo Horizonte, na tecnologia mais moderna que existia no mundo e buscou repórteres e locutores “emergentes”, para “compor” a equipe. Foi onde eu entrei.
Gil Costa era um gênio do rádio, maior audiência de Belo Horizonte com a sua “Resenha do Jegue”, na Rádio Itatiaia, que levou para a Capital, de 12 às 14 horas.
Para obter audiência com uma nova emissora, que saía do zero, enfrentando as poderosas Itatiaia, Guarani e Inconfidência, seria preciso fazer algo diferente, além de contratar campeões de audiência como Vilibaldo Alves, Aldair Pinto e tantas outras feras.
Na enorme sala dele na sede da Capital, na Avenida do Contorno 5057, sempre cheia de gente, entre uma talagada e outra em seu inseparável Marlboro, teve um estalo:
__ Taí, o Reinaldo vai ser nosso comentarista.
E antes que alguém perguntasse qual Reinaldo, ele já emendou com a lembrança de que o José Reinaldo de Lima estava no “estaleiro”, em longa recuperação de mais um de seus sérios problemas nos joelhos, em função das pancadas que levara desde os tempos do infantil.
Depois da Copa do Mundo da Argentina, em 1978, o maior artilheiro do Brasil naqueles tempos, ainda não tinha voltado a jogar e o país inteiro falava do drama dele, que usava o “Nautilus”, equipamento revolucionário na época, importado por uma fortuna dos Estados Unidos. Origem dessas máquinas fitness das academias atuais.
E o Rei, topou! Gostou tanto da ideia que nem cobrou nada. Ele tinha 22 anos de idade.
O mundo do futebol era assim. Reinaldo, que completa 67 anos hoje, continua assim, simples, amante do futebol e sem ganância por dinheiro.
Dessa forma tive a honra de ser colega de trabalho, ainda que por poucas semanas, de um dos maiores jogadores de futebol que o planeta já teve.
Realizei meu sonho de ser repórter e comentarista. Daquele início, cobrindo o futebol amador de Sete Lagoas até hoje, foram 11 Copas do Mundo, cinco Olimpíadas e incontáveis outras grandes coberturas. Conheci lugares e pessoas no Brasil e no mundo, histórias mil, de todo tipo.
Sou muito feliz com tudo o que vivi, mas um dos maiores orgulhos da minha vida foi ter sido convidado a participar do livro “Punho Cerrado: A História do Rei”, de autoria do filho dele, Philipe.
Eu era colunista dos jornais O Tempo e Super Notícia. E que honra receber este e-mail, quase oito anos atrás, cuja íntegra repasso às senhoras e aos senhores:
De: Philipe Van vanrali@gmail.com
Data: 5 de agosto de 2016 11:10
Assunto: Convite participação na biografia do Rei
Para: chicomaia@otempo.com.br
Bom dia Chico,
Estou lançando em setembro a biografia do meu pai, Reinaldo.
Em janeiro próximo ele completa 60 anos e gostaria de incluir no livro algumas homenagens.
Como você acompanhou de perto toda a carreira dele, gostaria de convidá-lo para participar com um texto sobre os “60 anos do Rei.”
Pensei em algo na linha de um texto seu sobre ele que você publicou há uns anos atrás (abaixo).
Você teria disponibilidade?
Desde já agradeço.
abraço
“Quando vim da Rádio Cultura de Sete Lagoas para a Rádio Capital, cobri o América por três meses e depois me mandaram para a cobertura do Atlético que tinha um dos melhores times do Brasil na época. Reinaldo era a principal estrela; um Neymar da época. Comparado com as feras de então como Zico, Maradona e outros menos conhecidos.
Mas quem convivia com ele não acreditava que aquele sujeito simples, boa prosa e aberto a qualquer pessoa, da mais humilde à mais poderosa, era o “Rei” do Galo.
Vi o Reinaldo praticando gestos de extrema bondade a pessoas que realmente precisavam, que ele nunca tinha visto e pedia a nós da imprensa que não divulgássemos.
Nunca pediu o tratamento de estrela que sempre teve; nunca se considerou “intelectual” como poetas e artistas famosos da época o classificavam; jamais vi uma postura arrogante dele com quer que fosse.
Quando, aos 28 anos, disse que pararia com o futebol, nós que cobríamos o Atlético, o questionamos, já que ainda tinha muito a exibir, e ele respondeu sem pestanejar: “Não aguento mais essa vida no departamento médico; fisioterapia todo dia; concentração, remédios que dão efeitos colaterais…”.
Enfim, a vida dele era um calvário.
Naqueles tempos, jogador de futebol não ganhava nada em relação às fortunas que são pagas hoje pelos clubes e empresários. Reinaldo insistiu mais um pouco, passou pelo Palmeiras e cometeu seu “crime” maior de jogar alguns minutos pelo Cruzeiro.
Fato que seria normal se ele não representasse tanto para os atleticanos como representava.
Antes do 30 ele já tinha se retirado dos gramados, mas o prestígio continuou.
Tudo que o Rei falava, fazia, fala e faz, continuava repercutindo e repercute.
Aproveitou o embalo do prestígio, entrou para a política, tornou-se deputado e vereador.
Teve revezes pessoais, profissionais e continuou cidadão, correto, honesto e batalhador pela vida.”
E assim, com um artigo especial, que está lá no livro, participei do “Punho Cerrado: A História do Rei”.
Desejo felicidades sempre ao fantástico Reinaldo, jogador e gente, um grande ser humano!