O 7diasnews.com.br entrevistou Maria Paula Monteiro Machado, 24 anos, jornalista recém-formada pela UFMG. Filha de Leonardo Machado e Sâmia Monteiro, ela foi estagiária na TV Record Minas, Jornal Estado de Minas e na Assembleia Legislativa.
Atualmente, trabalha como jornalista e assessora de imprensa freelancer, com foco em projetos do terceiro setor e de defesa dos direitos humanos. Ativista feminista há mais de seis anos, Maria Paula atua na coordenação do Coletivo Feminista Várias Marias e é conselheira no Conselho Municipal de Direitos da Mulher de Sete Lagoas.
Quais suas lembranças da infância e juventude em Sete Lagoas?
Na minha infância, lembro com carinho de todos os domingos com almoço na casa dos meus avós Ana Maria e Necésio, em que eu, minha irmã e minha prima Marina brincávamos no quintal com as frutas que tinham no pé. Mais tarde, íamos encontrar minha avó Lia para tomar sorvete na antiga sorveteria Rainha, no centro. Amava ir na feirinha na sexta com minha tia Mirinha, alugar DVD com meu pai na locadora da Teófilo Otoni… Adolescente me diverti muito com meus amigos no antigo Opinião Pub, no Xisto (bar Jacarandá), pracinha do Carmo e Lagoa Boa Vista, sempre com a pizza Senna na madrugada, dias de Park Day, peças de teatro no Quintal de Histórias. Nessa mesma época, sempre participávamos do Sarau das Minas, e foi um espaço muito importante de entendimento enquanto LGBT e feminista. Foi um período muito especial.
Quando foi seu encontro com Sete Lagoas?
Nasci aqui, em julho de 1999, e só me mudei para BH para fazer faculdade, em 2018. Sempre gostei de viver a cidade, as praças, feiras, eventos… tudo ficou mais forte quando fundamos o Coletivo Várias Marias, cinco anos atrás, e pude conhecer diversas outras mulheres e meninas que lutam para que aqui seja um lugar melhor para se viver. Minha ligação com a cidade, a partir daí, extrapolou o campo afetivo, de amigos e familiares, para um lugar de luta política feminista. Hoje, enquanto conselheira, posso lidar com isso muito mais de perto, articulando as principais necessidades das mulheres do município entre o coletivo e o CMDM.
Em quais escolas estudou na cidade?
Estudei desde a infância no Instituto Peter Pan, e no ensino médio fui para o Colégio Impulso, entre 2015 e 2017. Foi no Impulso que participei da mobilização para minha primeira manifestação, contra a Reforma da Previdência e Trabalhista do Temer. Na época, conseguimos organizar os alunos no pátio para reivindicarem pela adesão do colégio à greve no dia seguinte. Deu certo, e fomos pra rua com alguns professores.
Quem é sua família?
Sou filha de Leonardo Machado e Sâmia Monteiro, irmã de Laura. Minha família por parte de pai vem de Jequitibá, com meu avô Necésio. Minha avó Ana Maria é nascida em Sete Lagoas, seu pai era maquinista na Estação. Já por parte de mãe, minha família vem da zona rural, próximo à Santana de Pirapama, de onde vem minha avó Lia e meu avô Tunico, que já faleceu.
Qual lugar que mais gosta na cidade?
Meu lugar preferido em Sete Lagoas é a Serra de Santa Helena. Gosto de ir para ver a cidade do alto, estar perto de mais natureza e assistir o por do sol. Queria muito que lá tivesse mais estrutura, que o Parque da Cascata estivesse em funcionamento, porque é um delicioso ponto turístico. Por isso, me preocupou extremamente o novo loteamento feito perto do pé da Serra. Acho que precisamos ter muito cuidado com o manejo da vegetação na cidade, especialmente com suas nascentes.
O que motivou você a escolher esta profissão?
Sempre amei escrever, gosto de jornal desde criança. Esperava ansiosa quando domingo meu pai saia para comprar pão de manhã e voltava com um jornal. Entretanto, Jornalismo não foi minha primeira escolha profissional. Fiz um ano e meio de Direito na UFMG, vivi intensamente a faculdade, participei do movimento estudantil e de grupos de estudos, mas não era minha vocação. Foi com o ativismo que descobri o poder da comunicação na luta por um mundo com mais equidade e direitos para quem precisa. A partir daí, decidi que queria ser jornalista, e mais que isso, ser uma comunicadora popular.
Qual sua trajetória profissional?
Enquanto estagiária, em Belo Horizonte trabalhei na RecordTV Minas durante um ano e no Estado de Minas por seis meses. Pude aprender o jornalismo em três formatos muito importantes: a TV, o impresso, e o portal online. Em seguida, também enquanto estágio, passei um período na Assembleia Legislativa na assessoria de comunicação e foi onde me encontrei mais. Hoje tenho atuado com a comunicação para o terceiro setor e projetos sociais de forma autônoma.
O que você acha que Sete Lagoas mais precisa?
Sete Lagoas precisa de uma política de cuidado, que olhe para a população e enxergue seres humanos, com direitos, sonhos e necessidades. Em relação às mulheres, temos altos índices de violência, de todas as formas, mas nenhuma política em funcionamento. Falta uma rede de enfrentamento à violência que esteja interligada, a casa de acolhimento, o centro de referência da mulher, que possa encaminhar melhor os casos. Falta pensar a violência também como algo interseccional, que atinge mulheres de forma diferente de acordo com a raça, religião, classe, idade…e que precisa do envolvimento de todos os setores para ser combatida: saúde, educação, economia, mobilidade urbana.
Como é sua relação com a cidade e as pessoas daqui?
Tenho uma relação de amor com Sete Lagoas, que por vezes me gerou e gera feridas. Gosto da nossa cidade, acho ela linda, amo muitas pessoas daqui. Mas me machuca ainda ouvir de sete-lagoanos falas preconceituosas, repletas de ódio e desconhecimento especialmente direcionadas às mulheres, LGBTQIAPN+, pessoas negras, enfim. Temos muito a crescer juntos, com respeito à diversidade e aos direitos sociais.