Zacarias: Sete Lagoas celebra o aniversário de um ícone da comédia brasileira

Com 91 anos de legado, humorista é lembrado por ações culturais, depoimentos de moradores e espaços dedicados à sua memória.

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Por Roberta Lanza

O aniversário de um ícone

No dia 18 de janeiro, o Brasil relembra o aniversário de Mauro Faccio Gonçalves, eternizado como

Zacarias, um dos humoristas mais queridos e talentosos do país. Nascido em 1934, em Sete Lagoas,

Zacarias conquistou o coração do público com sua doçura, humor único e jeito inconfundível de levar alegria a todas as idades. Neste ano, ele completaria 91 anos, e sua memória permanece viva, especialmente em sua cidade natal, que se orgulha de ser o berço de um dos maiores nomes da comédia brasileira.

Filho de Sete Lagoas

Sete Lagoas não foi apenas o lugar onde Zacarias nasceu; foi também onde sua criatividade e amor pela arte começaram a ganhar forma. Ele sempre teve uma ligação forte com sua terra natal, mesmo após se mudar para o Rio de Janeiro, onde sua carreira artística floresceu. A simplicidade do interior e os valores que trouxe de sua família moldaram o personagem cativante que marcou a vida de muitos brasileiros.

A trajetória de Zacarias

Zacarias iniciou sua carreira no rádio, onde trabalhou como locutor e imitador, chamando atenção pelo talento para dar vida a diferentes vozes e personagens. Porém, foi em 1974 que ele ganhou notoriedade nacional ao integrar o elenco do programa Os Trapalhões, ao lado de Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum. O humor ingênuo e carismático de Zacarias se tornou sua marca registrada.

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No programa, Zacarias era o amigo doce e inocente, sempre pronto para arrancar gargalhadas com suas expressões exageradas, falas engraçadas e piadas cativantes. Ele também protagonizou filmes que marcaram a história do cinema nacional, contribuindo para consolidar Os Trapalhões como um dos maiores fenômenos da cultura brasileira.

Infelizmente, o Brasil perdeu Zacarias cedo demais. Ele faleceu em 18 de março de 1990, aos 56 anos, vítima de insuficiência respiratória decorrente de complicações relacionadas a uma infecção pulmonar.

O corpo de Zacarias foi sepultado em Sete Lagoas, sua terra natal, no Cemitério Santa Helena.

Mesmo com sua morte precoce, o legado de Zacarias continua inspirando e emocionando gerações.

Um resgate cultural com impacto no turismo Maria de Lourdes Pinto, turismóloga, proprietária da Lourdinha Turismo e integrante do Programa de Qualificação do Receptivo Turístico Minas Recebe e do Circuito das Grutas realiza um trabalho essencial no resgate e manutenção da memória de Zacarias em Sete Lagoas. Reconhecida por sua dedicação à valorização cultural da cidade, Lourdinha tem se destacado como uma das principais guardiãs da história local, promovendo ações que enaltecem o legado de Zacarias e fortalecem o sentimento de pertencimento da comunidade. Suas iniciativas, além de preservarem a memória do humorista, impulsionam o turismo e destacam Sete Lagoas como uma cidade rica em cultura e tradição, contribuindo para projetá-la como um destino único e especial.

Neste ano, em homenagem ao aniversário de Zacarias, Lourdinha visitou a Rua Mauro Faccio Gonçalves, localizada no bairro Cidade Nova, e conversou com moradores que compartilham lembranças e reflexões sobre o eterno Trapalhão.

Sara Poliana Oliveira Gerber, dona de casa de 38 anos, e seu pai, Saulo Gerber, aposentado de 72 anos, são unânimes em destacar a importância de homenagear Zacarias. Para Sara, a cidade natal do humorista ainda precisa reconhecer devidamente sua grandiosidade: “Como o Didi é bem homenageado no Ceará, o Zacarias também deveria ser bem homenageado em Sete Lagoas”. Já Saulo, emocionado, completou: “Morre o homem, mas não morre o nome”.

Sara Poliana com seu pai Saulo e Lourdinha
Foto: Roberta Lanza

A história de Zacarias é também uma ponte entre gerações. Maria do Socorro Pimenta, professora aposentada de 70 anos, relembra com carinho como Os Trapalhões marcaram sua vida e a de sua família: “Eles eram muito engraçados e interessantes, até educativos em algumas coisas”. Seu neto, Maurício Oliveira Pimenta, de apenas 11 anos, compartilha a conexão especial com o humorista, herdada do pai, Denis Maurício Pimenta, vigilante de 42 anos. Denis, com nostalgia, revelou: “Os Trapalhões marcaram minha infância; eu juntava moedas para ir ao cinema assistir aos filmes do Zacarias”. O pequeno Maurício, por sua vez, declarou: “Conheci o Zacarias pelo meu pai, e o que mais gosto nele são as bochechinhas e o jeito de fazer a gente sorrir”.

Dênis, Maria do Socorro, Lourdinha e Maurício
Foto: Roberta Lanza

Outros moradores da rua também expressaram suas percepções sobre a importância de Zacarias. Mauro Reis Teixeira, comerciante de 64 anos, lamenta que a nova geração não tenha tanto acesso à história do humorista: “A nova geração não tem tanto acesso às informações sobre o Zacarias; deveria haver mais divulgação”. Carmino Fagundes da Silva, aposentado de 70 anos que vive há 35 anos na Rua Mauro Faccio Gonçalves, destacou: “Sete Lagoas não valoriza a memória dele como deveria.” Nilza Maria Miranda dos Passos, cuidadora de idosos e proprietária de uma mercearia, sugeriu: “Além da rua com o nome dele, deveria ter uma praça para manter viva a memória do Zacarias, que era o jeitinho mineiro em pessoa”.

Lourdinha também conversou com Marcos Mezenga, produtor cultural há 20 anos, que relembrou a despedida de Zacarias em Sete Lagoas, um momento que marcou a cidade: “Me lembro perfeitamente, aos 10 anos de idade, de sua despedida em Sete Lagoas, o ginásio coberto lotado e, posteriormente, as ruas da cidade acompanhando seu cortejo até o Cemitério Santa Helena” Mezenga compartilhou ainda um sonho que permanece guardado: “Em 2019, junto com o amigo e produtor George Machado, aprovamos um projeto na Lei Rouanet para criar o Festival Cultural Zacarias, que levaria um mês inteiro de arte e cultura pelas ruas de Sete Lagoas. Infelizmente, não conseguimos captar os recursos necessários”.

Marcos Mezenga e Lourdinha
Foto: Roberta Lanza

O empresário Mauro Reis Teixeira, de 64 anos, reforça a importância de valorizar e divulgar melhor a memória de Zacarias, alinhando-se à visão de Lourdinha. “A nova geração não tem o devido acesso a essa parte tão rica da nossa história. Sinto saudade dos domingos em que me reunia com minha família para assistir a Os Trapalhões, momentos que marcaram não apenas a minha vida, mas a de muitas outras famílias brasileiras”.

Mauro Reis e Lourdinha
Foto: Roberta Lanza

Lourdinha também visitou a Escola Estadual Mauro Faccio Gonçalves, localizada no Jardim Primavera II, e recebeu um relato da vice-diretora Juçara da Luz Santos revelando que, apesar de fundada em 2013, a escola nunca foi oficialmente inaugurada. Além disso, os familiares de Zacarias ainda não tiveram a oportunidade de conhecer o local. Impactada pela situação, Lourdinha declarou: “Fiquei perplexa ao descobrir que a família nunca visitou a escola devido à falta de uma inauguração oficial. Quero muito contribuir para que essa inauguração aconteça, levando essa questão ao conhecimento das autoridades, para que possamos, enfim, concretizar esse momento tão significativo”.

Juçara da Luz e Lourdinha
Foto: Roberta Lanza

Atualmente, a escola atende cerca de 900 alunos e desempenha um papel crucial na preservação e disseminação do legado do eterno Trapalhão. Além de sua importância educacional, a escola mantém viva a memória de Zacarias com uma biblioteca que também leva o seu nome e projetos culturais que aproximam os alunos da trajetória do humorista. Atividades em sala de aula, apresentações teatrais e outras iniciativas têm sido realizadas para destacar a relevância de Zacarias na história cultural do Brasil.

Juçara da Luz e Lourdinha na biblioteca da E. E. Mauro Faccio Gonçalves
Foto: Roberta Lanza

Lourdinha, ao refletir sobre o impacto de suas ações, reforçou sua motivação em continuar promovendo o legado de Zacarias: “A história de Zacarias é um tesouro de Sete Lagoas que precisa ser valorizado. Ele não representava apenas o humor, mas a essência do mineiro, com sua simplicidade e carisma. Quero fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que as próximas gerações conheçam e se orgulhem do que ele significou para todos nós”.

O Memorial Zacarias: um espaço de preservação e homenagem

Inaugurado em 25 de novembro de 2020, o Memorial Zacarias, localizado no Casarão Nhô-Quin Drummond, é dedicado à preservação de sua memória.

O espaço abriga um acervo que inclui fotos, revistas, matérias de jornais, discos, placas comemorativas e roupas do humorista, itens que já faziam parte da exposição permanente do Casarão. Além disso, uma segunda sala foi especialmente preparada para preservar figurinos, perucas e caricaturas de Zacarias. Entre os destaques do Memorial estão cinco bustos que exibem as perucas utilizadas pelo personagem em diferentes fases de sua carreira, proporcionando um olhar nostálgico e emocionante sobre a trajetória do artista.

A criação do Memorial representou um investimento de R$ 49.268,55 e tornou-se uma importante conquista para o turismo cultural de Sete Lagoas. A visitação é gratuita e aberta ao público, funcionando de segunda a sexta-feira, das 9h às 16h, e também aos sábados e domingos no mesmo horário.

Apesar das homenagens, ainda há desafios na preservação do legado de Zacarias em Sete Lagoas. “Durante minha pesquisa em campo, constatei que grande parte dos sete-lagoanos desconhece a existência do Memorial dedicado a Zacarias em nossa cidade. Isso me entristece profundamente, pois demonstra a necessidade urgente de maior engajamento por parte das autoridades competentes na valorização e na divulgação de sua memória, que é um patrimônio cultural tão importante para Sete Lagoas”, reflete Lourdinha, defensora ativa da memória cultural do humorista.

Arte nas alturas

Em 2023, Zacarias foi novamente homenageado no Festival Nacional de Arte de Rua (Fenar), dessa vez por meio de um mural pintado pelo artista plástico Drin Cortes, formado pela Escola de Belas Artes da UFMG. A pintura monumental ocupa a empena de um prédio localizado na Rua Lassance Cunha, no centro de Sete Lagoas.

Durante a criação da obra, Drin Cortes mergulhou na trajetória de Zacarias, buscando inspiração em produções icônicas como o clipe “Papai, eu quero me casar”, o filme “Os Saltimbancos Trapalhões” (1981) e o vídeo “Jandira e Zacarias”, que retrata a relação do humorista com sua cachorrinha desaparecida. O processo criativo incluiu a elaboração de um desenho inicial em uma tela menor, que serviu como guia para a pintura final. A melhor vista do mural pode ser apreciada a partir do Museu do Ferroviário, oferecendo um convite visual à memória do artista.

O legado familiar e o carinho pelo humorista

Zacarias foi um dos 11 filhos de uma família unida, que sempre esteve ao seu lado, acompanhando sua carreira e celebrando suas conquistas.Entre seus irmãos, destaca-se Wilma Faccio Gonçalves Guiscem, que completa 83 anos no dia 19 de janeiro, um dia após o aniversário de Mauro. Wilma, viúva de José João Guiscem e mãe de Patrícia e Cristina Gonçalves Guiscem, carrega com carinho as memórias de sua infância e da convivência com Mauro.Ela recorda com emoção o último momento em que celebrou o aniversário dos dois irmãos juntos, em 1990. “Foi um momento inesquecível. O último sopro da vela em comemoração aos nossos aniversários aconteceu em minha residência, e guardo essa memória com muito carinho”, revela Wilma, emocionada ao lembrar do irmão, que sempre trouxe alegria para todos ao seu redor.

Wilma, irmã de Zacarias completa 83 anos no dia 19 janeiro

A família de Zacarias, apesar das perdas, continua preservando sua memória com muito amor e dedicação, mantendo viva a história de um dos maiores comediantes da televisão brasileira.

“Essa experiência foi extremamente enriquecedora. O contato direto com a comunidade me proporcionou uma visão ainda mais clara do impacto profundo que Zacarias deixou em Sete Lagoas. Ver a nostalgia e o carinho das pessoas pela memória dele me fortalece na missão de preservar e divulgar seu legado. Valeu a pena cada conversa, cada relato, e sei que, com o apoio de todos, podemos garantir que a história desse grande humorista seja lembrada e celebrada como merece”, conclui Lourdinha.