“Tenho todas as condições de ser pré-candidato a prefeito de Sete Lagoas, mas decisão passa por grupo político”, afirma o vereador Caio Valace

O presidente da Câmara Municipal de Sete Lagoas, vereador Caio Valace, fala sobre as eleições deste ano. Ele afirma que se preparou ao longo dos anos não só para ser prefeito, mas para ser um agente público. Porém, Valace ressalta que o Duílio de Castro é pré-candidato e essa questão perpassa pelo entendimento e pelo consenso do grupo político o qual faz parte.

Caio Valace, presidente da Câmara Municipal
Caio Valace, presidente da Câmara Municipal

O senhor ficou mais de 20 anos fora do cenário político, mas voltou e demonstra que ainda tem muito a colaborar. Por que o retorno?

O retorno foi exatamente porque eu havia implementado projetos há 20 anos e eu pude perceber que muitos deles continuavam na gaveta e eu voltei para tirar a poeira desses projetos e colocá-los em prática. Um dos exemplos que eu cito é a Lei de Incentivo à Cultura que eu havia feito a quatro mãos com o ex-vereador Luiz Carlos de Oliveira e que até antes da minha volta não havia sido implantada. Isso gera uma frustração muito grande não só para o autor da lei, como também para os beneficiários. A praça Paris, no bairro Jardim Europa, que também foi acalentada há mais de 20 anos e só agora saiu do papel. Nesse novo período na Câmara, aproveitamos e implementamos dezenas de projetos. Em breve, implantaremos, a partir do nosso trabalho, uma casa de abrigamento para auxiliar mulheres vítimas de violência e seus dependentes, por exemplo. Na Presidência da Câmara, implantamos uma gestão moderna e eficiente. O Centro de Atendimento ao Cidadão (CAC) foi uma das grandes conquistas, com diversos serviços disponibilizados ao cidadão a partir de convênios feitos com vários órgãos públicos. A partir de um forte trabalho de gestão, também conseguimos tirar do papel o concurso público da Câmara, que há décadas não era realizado. Enfim, foram vários projetos realizados nesse período como vereador e como presidente da Casa.

Em 2023, muitos atritos com a oposição ou determinados vereadores. Por que?

Esses atritos fazem parte de uma postura diante da política, diante do exercício do mandato. Faz parte também de uma compreensão diferente na forma de se colocar diante dos problemas da cidade. Então, muitas vezes, esses embates são feitos por questões meramente de visão política, de compromisso político, de ideologia política e até mesmo de postura política. Quando eu vejo um político investido no mandato público, que foi eleito para resolver os problemas, criticando os problemas, eu vejo a repetição da velha política. Velha política que arremeteu Sete Lagoas no atraso. E é preciso dar um passo à frente, ainda que isso nos custe embates mais ferrenhos dentro da Câmara Municipal.

Você é pré-candidato a prefeito de Sete Lagoas?

Tenho todas as condições de ser pré-candidato a prefeito de Sete Lagoas. Contudo, neste momento, o Duílio é pré-candidato e essa questão perpassa pelo entendimento e pelo consenso entre o nosso grupo político, que é liderado por ele. Uma vez que o prefeito pretende disputar esse cargo e que ele tem uma chance enorme, caso ele consiga o registro dessa candidatura, eu não tenho como seguir com esse propósito. Mas, não havendo essa possibilidade do registro da candidatura, meu nome está sim à disposição do grupo. Neste momento, portanto, sou pré-candidato a vereador. Entendo que o espaço legislativo é de extrema importância e temos muito ainda a avançar mais do que já avançamos como vereador e na Presidência da Casa.

O que o credencia a ser prefeito de Sete Lagoas?

Eu me preparei muito ao longo dos anos não só para ser prefeito, mas para ser um agente público. Já fui secretário, vereador, estou aqui no nosso quarto mandato e me preparei muito tecnicamente. Registro minha passagem pela secretaria de Trânsito e meus 30 anos como consultor jurídico para câmaras e prefeituras. Eu fiz uma pós-graduação em Gestão Pública, uma pós-graduação em Poder Legislativo e venho estudando a gestão pública há muito tempo. Tudo isso me faz ter a experiência e o conhecimento que me permitem pleitear cargos de gestão não só na esfera municipal, mas em qualquer esfera. Estou pronto para isso. Na verdade, o sentimento que eu tenho é o sentimento de servir a cidade. Minha família tem tradição de serviço prestado em Sete Lagoas. Minha mãe discutiu e implementou no governo Afrânio Avelar Fundação Municipal de Ensino Profissionalizante, a Fumep. Meu pai, juntamente com seus companheiros de Rotary, criaram a Unifemm e a Cooperativa de Produtores de Leite. Eu tenho sido um dos responsáveis por pautar a agenda social desse governo com projetos de extrema relevância, como o IPTU Social, o Ambulante Legal, a Lei de Incentivo à Cultura, o Projeto Iluminar, que deu origem à Copa Corujão e diversos outros. E ressalto a gestão moderna e eficiente que estamos fazendo à frente da Câmara de Sete Lagoas. Em setembro, vai ter concurso público, que há três décadas não era realizado. Instituímos o Centro de Atendimento ao Cidadão com diversos serviços abertos à população. Enfim, nós temos uma série de trabalhos prestados para a nossa cidade e é isso que nos interessa, continuar prestando serviços, continuar servindo a nossa cidade. É isso que nos motiva a participar da eleição. Se for ao cargo de prefeito, certamente eu irei me dedicar assim como me dediquei integralmente em outras ocasiões em que estive investido em cargos públicos.

Há favoritos do prefeito Duílio de Castro dentro do seu grupo político?

Eu não acredito nisso. O Duílio é muito maduro para poder compreender que as pretensões para se disputar uma prefeitura não passam pelo crivo somente do seu gosto pessoal. Ele sabe que os componentes são amplos. Não acredito que ele tomaria uma decisão que não fosse uma decisão política e técnica acertada, levando em conta qualidades como liderança, conhecimento, competência técnica, folha de serviços prestados, personalidade, conhecimento da gestão, experiência, ou seja, alguém que se dedicará à cidade com o mesmo ritmo que ele. Tudo isso será computado na hora da análise do grupo por um possível nome.

O que o motiva a tentar a reeleição para vereador, se for este o caso?

Vereador é um dos cargos mais importantes da cena política. O deputado fica distante, o senador, o presidente, o governador são figuras de um simbolismo muito grande e quase inacessíveis. O vereador, não. Ele faz parte do cotidiano, do dia a dia da vida das pessoas. O vereador é full-time. Ele está presente em todas as ocasiões, em todos os momentos do cotidiano da cidade. Nós somos, na verdade, os intérpretes da vontade popular. Nós temos que fazer uma leitura da nossa cidade e saber efetivamente o que a população precisa, quais são as nossas deficiências, quais as nossas potencialidades e isso me motiva muito. E eu sou um legislador nato, tenho feito projetos de grande alcance social aqui na Câmara Municipal, projetos com resultados positivos e já implementados. Isso me faz, obviamente, me colocar, mais uma vez, como pré-candidato à Câmara do município de Sete Lagoas.

Fale de sua proximidade com deputados estaduais e federais. A partir do seu mandato, várias emendas tem sido destinadas para a cidade.

Procuro manter um bom relacionamento com lideranças no Estado e em Brasília que possam trazer frutos para Sete Lagoas. Meu relacionamento é estreito com vários deputados. Na Assembleia, temos forte trânsito com Alencar da Silveira e um ótimo diálogo com Douglas Melo, por exemplo. No âmbito federal, cito o Dr. Mário Heringer e a Duda Salabert. Eu e a Duda temos uma afinidade muito grande nas pautas com as quais nós trabalhamos. A política socioambiental, por exemplo, faz parte da pauta da deputada e faz parte da minha pauta. Tenho desenvolvido um trabalho muito grande com as associações de catadores, já empreendemos várias conquistas neste mandato em prol da coleta seletiva e também na questão da segurança alimentar, da fome, das hortas comunitárias e de processos de inclusão social. A deputada Duda é uma das mais respeitadas na política nacional atualmente, foi amplamente reconhecida em vários eventos internacionais recentemente. Então, ela agrega muito com a sua postura, com a sua defesa da diversidade, com a sua defesa da sustentabilidade. Ela tem participado ativamente conosco do mandato liberando emendas para um complexo esportivo na praça Zacarias, uma emenda na área da saúde que vai nos possibilitar criar procedimentos e uma política pública de atendimento aos portadores da diabetes tipo 1, além de outras iniciativas, como recursos para a Universidade Federal de São João del-Rei, enfim, nós temos uma série de projetos que estão sendo trabalhados a quatro mãos.

O que o motivou a ir para o PDT: só questão matemática visando as eleições ou há alguma identificação com a sigla?

Na realidade, desde a eleição passada, já era minha pretensão disputar as eleições pelo PDT. Naquele momento não foi possível. As questões partidárias não passam somente pelo crivo pessoal. Muitas vezes, a sigla que a gente gosta está ocupada por um adversário dentro de uma outra estratégia. Quase nunca é possível fazer essa escolha, no campo do município, só com a nossa orientação ideológica ou com a nossa orientação programática. Às vezes, você tem que compor um partido que até está um pouco distante disso, uma vez que os partidos políticos ainda sofrem muita interferência pelas direções estadual e federal em suas composições, principalmente nos momentos de eleições municipais. Há muita influência ainda. Estou muito feliz no atual partido.

Você está no seu quarto mandato. Há muita diferença de perfil da Câmara Municipal, assim como os vereadores, dos primeiros mandatos, para a atual composição política do Legislativo? O nível de debate caiu ou melhorou?

Fiquei 20 anos fora da Câmara, mas não fiquei fora da política durante esse período porque, indiretamente, eu estava no olho do furacão. Eu prestava consultorias às procuradorias dos municípios e às mesas diretoras das câmaras municipais das cidades da região. Mas há diferença sim. Nós tínhamos nos quadros da Câmara vereadores como Mário Lúcio Balu, uma excelente figura pública, um homem de caráter ilibado, Ovídio Teófilo Amorim, André Rogério Lupiano de Abreu, Orlando Batista, enfim, havia muita gente que tinha um perfil mais legislador. Hoje, talvez a Câmara esteja passando por esse processo de mudança, sobretudo pelo incremento da tecnologia, da internet, e ela vai mudando o perfil, mas quem sou eu para dizer se ela melhorou ou piorou. Cabe ao eleitor fazer esse julgamento dos resultados que estão sendo colhidos durante este mandato.

Quais as realizações que Sete Lagoas mais precisa, para, de fato, deslanchar?

A gente precisa combater as velhas e novas desigualdades. É uma cidade socialmente desequilibrada. Isso tudo foi provocado pela política do clientelismo, do fisiologismo e do paternalismo que são a grande tônica da política da cidade até os dias atuais. E a gente tem que sair fora dessa prática para compreender que os projetos públicos, de inclusão social, que os projetos de desenvolvimento sustentável da cidade passam efetivamente por esse viés do trabalho sério. E precisamos dar continuidade a um processo de diálogo com todos os setores da sociedade. Esse é o caminho que nós devemos percorrer em busca do enfrentamento dos graves problemas que foram se alongando durante muitos e muitos anos. Esses problemas precisam ser colocados à mesa. Alguns já estão resolvidos, muitos outros estão sendo resolvidos, mas há muitos ainda para resolver. E o diálogo é único caminho. A classe política conversando com a sociedade, formando parcerias e fazendo com que todos se sintam responsáveis pelo destino da nossa cidade.