A tarifa de 50% anunciada pelo ex-presidente norte-americano Donald Trump sobre produtos brasileiros, que via entrar em vigor na próxima sexta-feira (1o. de agosto), já provoca fortes impactos na economia mineira. Reportagem do jornalista Gabriel Rodrigues, de O Tempo, mostra que pelo menos cinco usinas de ferro-gusa no Estado já interromperam ou anunciaram a paralisação de suas atividades, afetando diretamente o setor que emprega cerca de 10 mil pessoas em Minas Gerais.

Em Sete Lagoas, a Sama Siderurgia confirmou que irá desligar o alto-forno nesta quarta-feira (30/07), sem previsão de retomada. A empresa, que exporta 95% da produção para os EUA, colocará entre 100 e 120 dos 150 funcionários em licença. “O único mercado que estava comprando hoje eram os Estados Unidos. A Europa e a Ásia compram, mas é muito pouco”, explica o gerente industrial Thiago Valente Carneiro.
Na mesma cidade, a Multifer ainda mantém as atividades, mas o proprietário Willian Reis aguarda os desdobramentos das negociações entre os governos brasileiro e americano. “A expectativa é que, caindo as tarifas, o mercado volte a consumir. Mas ainda temos a preocupação das chuvas a partir de outubro, quando falta carvão”, afirmou.
Em Matozinhos, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a Fergubel concedeu férias coletivas para 120 dos seus 144 funcionários desde segunda-feira (28). O CEO André Ribeiro Chaves relata a frustração após pedidos dos EUA serem cancelados de forma abrupta. “Entre 80% e 90% da nossa produção vão para os EUA. Na semana passada, um comprador mandou suspender as entregas do dia seguinte. Estou com as esperanças um pouco perdidas”, lamentou.
Impacto imediato e desafios logísticos
De acordo com o Sindicato da Indústria do Ferro no Estado de Minas Gerais (Sindifer), 68% da produção mineira de ferro-gusa foi exportada em 2024, sendo 84% desse volume direcionado aos EUA. “É muito difícil redirecionar essa produção no curto prazo. Toda a cadeia pode ser prejudicada com a tarifa”, afirmou o presidente da entidade, Fausto Varela.
A cadeia produtiva do ferro-gusa, que inclui a silvicultura (responsável pelo carvão vegetal utilizado nos fornos), também sente os reflexos da crise. A instabilidade nos pedidos e a falta de clareza nas novas regras tarifárias tornam incerta qualquer tentativa de adaptação rápida.
Mobilização política em Brasília
Diante do cenário preocupante, representantes do setor e autoridades locais se mobilizaram em Brasília nesta terça-feira (29/07). O prefeito de Sete Lagoas, Douglas Melo, acompanhado de empresários e do secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Juca Bahia, reuniu-se com o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
“Viemos em defesa do setor siderúrgico e dos empregos de Sete Lagoas. Dentre as sugestões apresentadas, uma delas é que o governo federal busque novos mercados para o ferro-gusa, reduzindo a dependência dos EUA. Agradeço ao senador Rodrigo Pacheco pelo apoio em proteger esse setor tão importante para nosso município e região”, afirmou Douglas Melo.
O senador Rodrigo Pacheco reforçou seu compromisso com o setor produtivo mineiro:
“Quero reafirmar meu compromisso com Sete Lagoas e toda Minas Gerais. Vamos unir o Senado e a Câmara, independentemente de partidos ou ideologias, para defender os setores econômicos ameaçados. A pauta do ferro-gusa é prioritária e merece atenção urgente do governo federal.”
As lideranças também aguardavam, ainda na terça-feira, uma reunião com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na expectativa de incentivos tributários e abertura de novos mercados internacionais, a fim de preservar a viabilidade do setor.