*Crítica de Wellberty Hollyvier D’Becker.
O que eleva um filme a clássico? “E o Vento Levou”, por exemplo, já nasceu clássico, assim como “Cidadão Kane”. Outros, como “Blade Runner”, não foram compreendidos em sua época, mas hoje são considerados clássicos incontestáveis. “E.T.” é outro caso: inicialmente um filme infantil sobre um extraterrestre, hoje é uma obra obrigatória para cinéfilos e amantes do cinema. Ser um clássico confere prestígio ao filme, mas pode intimidar. “2001: Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, é um exemplo disso — muitos têm receio de assisti-lo, especialmente por conta da cena inicial, em que macacos descobrem o fogo e a arma. O que se segue é uma narrativa brilhante, mas essa primeira parte afasta alguns espectadores.
“A Substância”, escrito e dirigido por Coralie Fargeat, diretora do premiado “Revenge”, é uma obra intensa e desconfortável. Este é, sem dúvida, o filme mais polêmico de 2024. Embora o ano ainda não tenha terminado, dificilmente veremos algo tão impactante. Demi Moore entrega aqui a melhor atuação de sua carreira, enquanto Margaret Qualley brilha em sua estreia no cinema — ambas estão impecáveis.
Demi Moore interpreta Elizabeth Sparkle, uma atriz que, embora tenha vencido um Oscar no passado, hoje é lembrada apenas como a apresentadora de um programa de aeróbica famoso e de grande sucesso na TV. Certo dia, ao sair da gravação, ela precisa usar o banheiro e, sem opções, entra no masculino, onde ouve Harvey (interpretado por Dennis Quaid) dizendo que pretende demiti-la por ser “velha” e “ultrapassada” e que o programa precisa de “sangue novo”. Abalada, Elizabeth sai chocada; afinal, tem apenas 50 anos e não se sente velha.
Mas o que é ser “velha” na televisão ou no cinema hoje? Ter uma idade avançada, não ter um corpo tão esbelto ou ter marcas de expressão? Não! Trata-se de não atender ao padrão estético imposto pela indústria cinematográfica e televisiva. Divas do passado, como Sharon Stone, Kim Basinger, Brooke Shields, Michelle Pfeiffer, Jennifer Connelly e Halle Berry, enfrentaram essa realidade — todas foram musas, mas, com o tempo, foram relegadas a papéis menores.
Após ser demitida, ressentida e sem rumo, Elizabeth recebe um cartão de um homem que lhe fala sobre “A Substância” — um composto químico capaz de criar um clone seu mais jovem, devolvendo-lhe o glamour de outrora. Inicialmente receosa, ela decide experimentar a substância ao ver que já estão procurando uma substituta para seu programa. Sem entrar em detalhes para evitar spoilers, o nascimento do clone, que é a própria Elizabeth mais jovem, é assustador. As duas compartilham o mesmo corpo, interpretado por Margaret Qualley, que impressiona na audição para o novo programa e assume o lugar de Elizabeth.
Entretanto, como ambas são a mesma pessoa, só podem passar uma semana em cada corpo. Em certo momento, quando Sue decide permanecer um pouco mais no corpo novo, isso gera consequências graves para o corpo original de Elizabeth. A regra é clara: não pode ultrapassar o tempo de uma semana. No entanto, as coisas saem do controle, e o desfecho é gore, triste e assustador, levantando a reflexão sobre o preço da beleza. Vale a pena? Era isso mesmo que Elizabeth queria?
Em resumo, é um filme obrigatório para todos que acreditam que a beleza é essencial. “A Substância” está disponível na Amazon Prime Video — nota 10/10.