Crítica de Wellberty Hollyvier D’Becker*.
Filmes cristãos geralmente não agradam nem ao público nem à crítica. Algumas raras exceções, como Superação: O Milagre da Fé e Milagres do Paraíso, conquistaram popularidade, enquanto outros, como a franquia Deus Não Está Morto, receberam duras críticas; apesar de não terem sido grandes sucessos nos cinemas, esses filmes alcançaram bons resultados nos serviços de streaming. Abordar religião no cinema é uma tarefa desafiadora. Um dos grandes clássicos românticos do cinema é Amor Além da Vida, dirigido por Vincent Ward, que traz uma clara temática espírita. Graças ao talento do elenco, o filme foi bem recebido e alcançou sucesso; muitos espectadores o assistem repetidas vezes.
No entanto, os filmes cristãos não costumam ter a mesma aceitação, pois raramente apresentam uma qualidade de produção comparável. Um exemplo é Apocalipse, com Nicolas Cage, que foi um fracasso; uma pena, pois o tema do arrebatamento já havia sido bem trabalhado em uma trilogia anterior. Apocalipse era uma tentativa de remake, mas o fracasso do filme impediu a continuidade dos planos. Vale lembrar que “filme cristão” não é o mesmo que “filme evangélico”. A religião cristã engloba todas as denominações que acreditam em Cristo – evangélica, católica, episcopal, luterana, entre outras. Até mesmo aqueles que não praticam nenhuma religião podem assistir a esses filmes, pois suas mensagens são bastante poderosas.
A Forja é um filme impactante. Aspen Kennedy interpreta Isaiah, um jovem de 19 anos rebelde, perdido e viciado em videogame e basquete. Ele vive com a mãe, que o criou praticamente sozinha, e essa situação gera nele uma certa revolta. Apesar de sentir raiva do pai, Isaiah também sente falta dele. Um dia, sua mãe lhe dá um ultimato: ele precisa arrumar um emprego em um mês ou será expulso de casa. A princípio, pode parecer uma atitude radical, mas a mãe faz isso com tanto amor que entendemos seu desejo de que Isaiah cresça. O jovem, inicialmente cético, começa a procurar emprego e vai até uma fábrica de materiais esportivos, onde encontra Josué (Janelle Moore), que, sem que Isaiah saiba, é o presidente da empresa. O primeiro encontro não é amigável, mas Josué pede que ele volte quando quiser.
Isaiah tenta outros empregos, sem sucesso, e decide voltar à fábrica de Josué, que o recebe e lhe faz três perguntas, dando-lhe um tempo para pensar nas respostas. Dias depois, Isaiah retorna com respostas que agradam o dono da fábrica, e assim ele começa a trabalhar. Josué, percebendo que o jovem está perdido, pede que ele chegue duas vezes por semana mais cedo para que possam se reunir. Dessa forma, o cristianismo é introduzido na vida de Isaiah, que aos poucos começa a gostar e se adaptar à nova realidade, abandonando antigos hábitos. Ele é, então, apresentado ao grupo A Forja, formado por homens que fazem discipulado para converter outras pessoas ao cristianismo.
Há uma cena no filme que comove profundamente, em que Isaiah está em seu quarto, falando com Deus em voz alta. Ele perdoa alguém de seu passado com todo o coração e fé e pede proteção para outra pessoa. Esse momento de fervor e admiração a Deus e a Jesus Cristo é tocante e nos envolve, transportando-nos para dentro da tela e nos fazendo compartilhar dos dramas dos personagens. Essa cena, em particular, é belíssima e, por si só, já vale o ingresso.
O filme oferece ainda mais: quando a empresa que acolheu Isaiah precisa de ajuda, ele assume a responsabilidade e resolve a situação. Essa empresa, inclusive, tem um forte engajamento social, com ações beneficentes em diversos países e oferta de alimentos aos necessitados. O primeiro discipulado de Josué certamente vai surpreender o público. Mais do que um filme sobre cristianismo, A Forja é uma obra sobre esperança, amor, amizade e, acima de tudo, sobre como nunca é tarde para mudar – uma mudança que deve vir de dentro para fora.
Nota do filme: 9/10.
*Não percam, no dia 10 de novembro, de Wellberty Hollyvier D’Becker, a peça Corações Aflitos, no Teatro Preqaria, às 19h. Ingressos antecipados no site do Sympla. Garanta já o seu!
