Neste domingo, 24 de novembro, Sete Lagoas foi palco da segunda edição da “Corrida Por Elas – Uma Corrida pela Vida da Mulher”, evento esportivo e social até a Serra de Santa Helena, que visa combater o feminicídio e a violência doméstica.
Após o sucesso da primeira edição, realizada em novembro do ano passado e que reuniu mais de mil atletas, a corrida deste ano não foi diferente. Promovido pela Associação de Apoio às Mulheres de Sete Lagoas em parceria com a Prefeitura, a “Corrida Por Elas” conta com o apoio da Secretaria Municipal da Mulher e da Secretaria de Cultura, Esportes e Turismo.
Nesta edição, a homenageada foi Marina, vítima de feminicídio em 2018. Ao final da corrida, todos os participantes foram recepcionados na Feira Dela’s, um espaço de cultura e reflexão com produtos artesanais, gastronomia e atividades culturais, que reforça o apoio às mulheres e a importância da igualdade e do respeito.
O Projeto Marinas – em homenagem a Marina – também se uniu ao evento, fortalecendo o compromisso de transformar vidas e construir um futuro sem violência de gênero. A seguir, depoimentos de Anny Cristine, mãe da Marina, vítima de feminicídio em 2018:
“Sou a idealizadora do projeto Marinas, criado em memória da minha filha Marina, que foi vítima de feminicídio em 2018, e hoje atendo mulheres em situação de vulnerabilidade, oferecendo apoio e orientação. Estar aqui na Corrida por Elas é muito significativo, pois esses eventos não apenas conscientizam, mas também sensibilizam, e isso faz muita diferença. Conscientização é importante, sim, mas a sensibilização, que é o que uma ação como essa promove, toca profundamente as pessoas, levando-as a refletir e questionar comportamentos que antes poderiam passar despercebidos.
A violência não pode ser normalizada, de forma alguma. Sabemos que ela começa de forma sutil, muitas vezes como uma violência verbal ou psicológica, que é invisível e acaba crescendo sem que as pessoas percebam. Por isso, momentos como esses, onde todos – homens, mulheres, jovens e crianças – se reúnem, têm um valor enorme. Eles ajudam a abrir os olhos, a mudar atitudes, e a dar voz a quem antes poderia ter se calado.
Para todas as mães que, assim como eu, passaram pela dor de perder uma filha de forma tão cruel, eu só posso dizer que cada uma vive sua dor de maneira única, mas que podemos encontrar uma forma de honrar a memória de quem amamos. Eu escolhi transformar minha dor em luta, e, com o projeto Marinas, tento acolher e ajudar outras mulheres, como minha filha fazia. Que essa corrida seja um passo a mais para que ninguém mais passe pelo que eu passei!”.
Anny Cristine também falou sobre como lidou com a dor, e um caminho para transformar o luto, que continua presente:
“Perder uma filha de forma tão brutal é uma dor que não desaparece; ela se transforma, mas permanece. Cada mãe que passa por isso encontra sua própria forma de lidar com o luto, e eu descobri, com o tempo, que a melhor forma de honrar a memória da minha filha Marina era transformar meu sofrimento em luta. Foi assim que nasceu o projeto Marinas, em que apoio mulheres em situação de vulnerabilidade, levando adiante o acolhimento e o amor que minha filha tinha no coração.
Para as mães que estão vivendo essa dor, eu diria que é essencial permitir-se sentir cada momento. Chore quando for necessário, não esconda a tristeza nem finja que a dor não existe. Eu sou psicóloga e trabalho com saúde mental, e já acompanhei muitas mães que, como eu, enfrentaram essa perda tão brutal. O luto não vira saudade; ele continua, mas se transforma.
A vida segue, sim, mas não sem essa marca. Só nos resta viver o luto de maneira honesta, sem pressa para se curar, porque não existe cura para a ausência de um filho. Estamos aqui, enquanto Deus quiser, lutando e resistindo, e essa é a nossa forma de manter viva a memória de quem amamos.”, finaliza.