Round 6 retorna com novos jogos e narrativa sombria

Crítica de Wellberty Hollyvier D’Becker.

Em 2021, Round 6 chegou com uma proposta diferente: meio reality, meio ação, meio suspense, meio gore. Essa mistura conquistou o público, tornando-se a série mais assistida da história da Netflix. Planejada inicialmente para ter apenas uma temporada, a série foi concluída de forma satisfatória, e a própria Netflix havia afirmado que não haveria uma continuação. Contudo, o clamor popular e o interesse da plataforma em lucrar mais convenceram o criador a desenvolver uma nova temporada, que estreou em duas partes: a primeira foi lançada em 26/12, e a segunda chegará em 27/06.

Seong Gi-Hun (Jung Jay Lee) retorna com uma nova missão: acabar com os jogos. Ele contrata mercenários para caçar o recrutador de participantes (Gong Yoo). Diferente da primeira temporada, onde era alegre, sonhador e um pouco medroso, Gi-Hun agora é sombrio, melancólico e dominado por uma fúria interna. Seu objetivo não é vingança, mas pôr fim ao ciclo dos jogos. Após três anos buscando respostas, ele percebe que a única solução é voltar a participar.

A temporada apresenta novos personagens, como um casal norte-coreano separado, um rapper chamado Thanos, um youtuber conselheiro de criptomoedas, uma mãe idosa e seu filho, e uma transexual interpretada por um ator masculino. Esse detalhe reflete a complexidade da questão de gênero na Coreia do Sul, onde o tema ainda é considerado tabu. Em outros países, provavelmente escalariam uma transexual de fato, como já aconteceu em produções da Netflix, como Sense8 e Orange is the New Black. Contudo, a plataforma decidiu respeitar as restrições culturais do país.

Nos sete primeiros episódios, apenas três jogos são disputados, mas são extremamente violentos e resultam em muitas mortes. O icônico jogo Batatinha 1, 2, 3 retorna. Apesar de compreensível narrativamente, a repetição pode gerar críticas. Os jogos inéditos, por outro lado, apresentam uma crueldade inédita. A trama ganha profundidade com o retorno de Park Yong Sik (Yang Dong-Geun) e uma reviravolta envolvendo o jogador 001. Embora a novidade da primeira temporada não esteja mais presente, a série compensa com novas histórias e uma jornada pessoal marcante para Gi-Hun.

Os coreanos continuam mostrando sua expertise em criar boas séries, e a Netflix tem colhido frutos de seus investimentos no país. Round 6 está programada para encerrar com a terceira temporada, ou segunda parte da atual, dependendo da interpretação. Essa divisão de temporadas em partes é uma estratégia para manter o público engajado. Os novos personagens enriquecem a trama, enquanto as mortes são mais impactantes e os jogos inéditos, ainda mais brutais.

No entanto, nem tudo é positivo. Esses sete episódios acabam sendo mais cansativos do que os nove da primeira temporada, especialmente devido à lentidão dos dois primeiros, focados na busca de Gi-Hun pelo recrutador. A ação começa a engrenar apenas no terceiro episódio, quando os personagens chegam à ilha. Uma novidade interessante é que, ao final de cada jogo, os participantes podem votar para decidir se continuam ou não, o que gera conflitos intensos, mas também ocupa muito tempo de tela, podendo desgastar o público.

Apesar disso, o saldo é positivo. A temporada traz novos elementos, perspectivas inéditas e um final em aberto arrebatador. Agora, resta aguardar o que a segunda parte nos reserva no dia 27 de junho.

A série está disponível na Netflix. Nota: 8,5/10.