O Instituto David Sackett promove no dia 28 de novembro, terça-feira, na Associação Comercial e Industrial de Sete Lagoas (ACI), o lançamento do projeto Alimentando Sonhos. O evento de lançamento será de 8h às 9h30.
Sob o coordenação do cardiologista Dr. Gilmar Reis, que é pesquisador há 20 anos, o projeto é um programa de cidadania e inclusão social através da alimentação de alto valor nutricional para crianças em situação de vulnerabilidade social. O projeto tem como objetivo monitorar a saúde de crianças que passam fome em Minas. Mais de 20 cidades foram visitadas e a pesquisa realizada.
O estudo, realizado em parceria com a McMaster University, do Canadá, é uma iniciativa inédita e de sucesso no mundo inteiro. Segundo o idealizador Gilmar Reis, os resultados do estudo já salvaram vidas nos cinco continentes, sendo a pesquisa premiada internacionalmente.
Mas, além do enfrentamento à pandemia – quando a proposta ganhou mais força no país – a equipe de pesquisadores percebeu outro fenômeno, o qual também pode trazer sérios riscos à saúde e até mesmo a morte: a insegurança alimentar.
Para o professor, além de ofertar complementação alimentar de alto valor nutricional, é preciso entender os impactos reais da oferta para a saúde e desenvolvimento cognitivo das crianças já expostas a essa condição.
- Durante a pesquisa sobre a Covid-19, fomos a mais de 5 mil residências e em 90% dos casos as famílias eram de baixa renda, em situação de vulnerabilidade social. Como professor universitário, eu e outros colegas já lidamos com essa situação na nossa atuação junto à atenção primária do Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, percebemos que a insegurança alimentar está pior do que nos últimos anos; constatada em pesquisa recente. Esses estudos evidenciaram um aumento de 70% na situação de fome, em comparação ao período pré-pandemia da Covid, explica Gilmar Reis.
Dividido em duas partes, o projeto Alimentando Sonhos terá um longo período de acompanhamento:
» Primeiro momento: serão monitoradas até 2 mil crianças de Sete Lagoas e seu respectivo núcleo familiar, com a oferta de complementação alimentar de alto valor nutricional, minimamente processada e saudável do ponto de vista cardiovascular.
» O acompanhamento será anual e incluirá avaliação clínica, cognitiva e de desenvolvimento bem como aspectos associados à vulnerabilidade familiar.
» A previsão de início é para este ano ainda. A seleção das famílias será em parceria com a Secretaria de Assistência Social do município, seguindo-se o CAD-ÚNICO. Uma equipe multiprofissional fará as avaliações iniciais e o acompanhamento, com consultas médicas e checagem de eventuais problemas médicos, avaliação psicológica, pedagógica e de desenvolvimento dos integrantes das famílias.
» Diversos modelos de execução do projeto-piloto em Sete Lagoas serão avaliados, tais como: agricultura familiar, economia circular, e cultivo compartilhado de diversos alimentos potenciais, como milho, sorgo, soja e banana.
PREMIADO
Dr. Gilmar Reis foi premiado e recebeu muitas homenagens pela pesquisa de medicamentos ambulatoriais para o tratamento da Covid-19. Gilmar é médico formado na Universidade Federal de Minas Gerais em Belo Horizonte, MESTRE em Cardiologia pela University of Michigan e Coordenador do Curso de Medicina da PUC Minas campus Contagem. Pesquisador atuante nas seguintes linhas de pesquisa: Insuficiência Cardíaca, Síndromes Coronarianas Isquêmicas Agudas, Fatores de Risco em Síndromes Coronarianas Isquêmicas Agudas.
Confira a seguir artigo de Gilmar Reis, que fala mais sobre o Alimentando Sonhos em Sete Lagoas:
A Fome crônica em Sete Lagoas: Uma chamada à consciência e à Ação
O mundo, apesar de sua riqueza e avanço tecnológico, ainda se depara com um problema tão antigo quanto a humanidade: a fome. Enquanto alguns têm o privilégio de desperdiçar, outros lutam diariamente por uma única refeição. Esta dicotomia dolorosa é ainda mais profunda quando olhamos para o Brasil, uma nação vasta e rica, porém, paradoxalmente, assolada pela insegurança alimentar. Atualmente 1 em cada 4 crianças estão em situação de fome crônica.
Minas Gerais, conhecido por sua riqueza cultural e culinária, não está imune a essa realidade. O município de Sete Lagoas, situado em seu coração, carrega em si o retrato amargo da desigualdade. Dezenas de milhares de famílias deste município veem-se diante do desespero de não poder alimentar seus filhos, de enfrentar olhares famintos e corações desesperados clamando por alimento.
A fome crônica não é apenas a ausência de alimento. Ela está intimamente relacionada com a pobreza, formando um ciclo vicioso quase impossível de romper. A pobreza limita o acesso à alimentação adequada, saudável e assim a desnutrição galga espaços impiedosamente. Esta, associada ao progressivo comprometimento cognitivo torna ainda mais difícil a saída deste estado de vulnerabilidade. É um eco ensurdecedor de desespero e marginalização.
As maiores e mais vulneráveis vítimas dessa realidade são nossas crianças. Milhares de crianças de Sete Lagoas, ao invés de brincar e aprender, sentem o peso opressor e silencioso da fome. Seus pequenos estômagos roncam, seus olhos tornam-se opacos pela insensibilidade da sociedade organizada. A alegria e esperança dão lugar a desilusão e tristeza. A fome crônica na infância não apenas retarda o desenvolvimento físico, mas também o cognitivo, relacional, social e mental, prejudicando irreversivelmente a capacidade de aprender e interagir socialmente.
Os danos são profundos. Uma criança faminta tem um sistema imunológico comprometido, tornando-a mais suscetível a doenças. A desnutrição deixa marcas permanentes no desenvolvimento cerebral, comprometendo sua capacidade cognitiva. Em suma, negar o alimento a uma criança é negar-lhe o futuro.
Então, como podemos mudar esse cenário?
Primeiramente, é fundamental reconhecer que todos têm um papel a desempenhar. Governos, empresas, organizações não governamentais e cidadãos comuns devem unir forças. A conscientização é o primeiro passo. Entender e reconhecer a dimensão do problema já é um passo gigantesco. A seguir, ações diretas, não somente executadas pelo poder público, mas sobretudo por nós, cidadãos, pois não podemos esperar por soluções quando nós mesmo podemos ajudar. A fome tem pressa!
Apoiar projetos sociais voltados ao combate à fome transcende em muito o conceito de caridade: é um dever moral, social e um dos aspectos fundamentais da cidadania. Nunca teremos uma sociedade melhor, mais justa e equânime se não darmos o passo firme. A empatia deve sair dos conceitos abstratos e ganhar o mundo real. A mudança da trajetória de muitas vidas no futuro dependem de nossas ações hoje.
Imagine o impacto que podemos causar se nos unirmos por essa causa. Cada criança Setelagoana alimentada é um futuro restaurado, um sonho reavivado. Em um mundo onde muitos têm tanto, é inadmissível que tantos ainda tenham tão pouco.
Conclamo você, leitor, a se colocar no lugar dessas famílias. A sentir a agonia de uma mãe ou pai que não pode alimentar seu filho. A imaginar a dor de uma criança que vai dormir com fome. Não podemos nos dar ao luxo da indiferença. O problema é real, está à nossa porta e pede nossa ação urgente.
Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil e o mundo clamam por solidariedade. Não desvie o olhar. Contribua para dar esperança e um futuro a estas crianças.
Gilmar Reis
Projeto Alimentando Sonhos
O assunto também foi tema de audiência na Câmara Municipal, onde o projeto também foi apresentado. Veja abaixo: