Oficina do Diabo: Uma aposta ousada

*Crítica de Wellberty Hollyvier D’Beckher.

Deus tem planos para você, e o diabo também. Assim começa o primeiro longa-metragem de ficção do serviço de streaming Brasil Paralelo.

Dirigido por Felipe Valerim, o filme apresenta altos e baixos, mas, para mim, o grande problema é o roteiro. Escrito a quatro mãos por Elton Mesquita e o próprio Felipe Valerim, o texto é muito frouxo. Em alguns momentos, cansa o espectador e poderia muito bem ter algumas páginas a menos.

O filme é dividido em sete partes, sendo a última a melhor delas.Este longa marca a despedida da grande atriz Elizângela, que nos deixou em 2023.

Produzido desde 2021, é importante salientar que este filme nacional não utilizou um centavo de dinheiro público. Ele foi totalmente financiado pelos assinantes da Brasil Paralelo, que somam cerca de 200 mil pessoas.

Comparando o que era a Brasil Paralelo no início e o que é hoje — a maior produtora de longas-metragens do Brasil e uma das melhores do mundo — há motivos para se ter esperança em relação às suas futuras produções de ficção.

O elenco não é numeroso, mas quem rouba a cena é Roberto Mallet, interpretando o diabo Fausto. Elizângela também tem uma atuação marcante no papel de Maria, a mãe do protagonista. Felipe Folgosi, depois de anos afastado, retorna como um escritor canastrão. Sérgio Barreto, que faz o protagonista Pedro, nunca dá ao personagem a profundidade requerida. Ele mantém-se superficial, sem comprometer, mas também sem impressionar. Rafael Cenatori, que interpreta Davi, o melhor amigo de Pedro, é um grande ator, porém pouco explorado. Felipe de Barros brilha como Natan, o outro demônio. O elenco, de modo geral, entrega boas performances.

O filme estreou no último dia 16 e tem atraído cada vez mais atenção. A Brasil Paralelo registrou um aumento significativo de novos assinantes. A forte campanha de marketing da empresa também chama a atenção. O serviço de streaming é muito conhecido e reconhecido pelos seus documentários, que já ganharam vários prêmios. Por ser sua primeira incursão na ficção, é compreensível que haja pequenos deslizes.

Tecnicamente, o filme é impecável. Filmado em 4K, apresenta uma fotografia muito bem realizada, cenários cuidadosamente construídos que emulam com precisão a década de 1960 e figurinos igualmente bem elaborados. A trilha sonora é um espetáculo à parte, o design de som funciona perfeitamente e a montagem é outro ponto alto. No entanto, uma redução de meia hora no tempo de duração (atualmente de 2h10) tornaria o filme mais dinâmico e agradável de assistir.

No Brasil, é raro surgir um filme cristão, e quando isso acontece, muitas vezes desaponta. Foi o caso de produções como os filmes protagonizados pelo Padre Marcelo Rossi ou “Aparecida — O Milagre”, dirigido por Tizuka Yamasaki. Já os filmes espíritas encontram um bom nicho, como “Nosso Lar”, baseado na obra de Chico Xavier, que está em sua segunda parte, e a cinebiografia de Allan Kardec. O Brasil é o país com mais adeptos da doutrina espírita, com cerca de 40 milhões de seguidores. Também é o país com o maior número de católicos, enquanto os Estados Unidos lideram em número de evangélicos.

Apesar de ser um filme religioso, deve-se destacar sua qualidade como obra cinematográfica. Esta crítica foi feita avaliando-o como entretenimento.O filme está disponível na Brasil Paralelo.

Nota: 8/10.