segunda-feira, 8 de julho de 2024

O jogo é de cartas marcadas e quem ganha normalmente é o Ás de Espadas

por Ênio Eduardo / Cientista Político

Eleição se consolida nas urnas e esse artigo não tem a pretensão de realizar adivinhações. O importante é analisarmos de maneira pragmática o cenário político partidário sete-lagoano para que possamos entender e avançar na distribuição democrática de gênero dos cargos eletivos municipais.

Os partidos estão se organizando. Poucas são as chances para a eleição de novos nomes femininos.

Existem algumas saídas, mas a grande maioria das candidatas se encontram em chapas claramente formadas para reeleger ou eleger homens. Essa prática é muito comum no processo eleitoral brasileiro e tem por objetivo iludir a grande maioria da população fazendo com que ela acredite que ela tem o poder de eleger os vereadores da cidade.

Os nomes se repetem. Quando olhamos partido por partido, a maioria deles tem a mesma formação: um vereador eleito, um “puxador” de votos e uma homogeneidade inexpressiva daí pra baixo. A dança das cadeiras acontece pouco antes dos prazos definidos de filiação, e cirurgicamente cada candidato é posicionado em um partido para que ele saia vitorioso da disputa.

Como ficam as mulheres?

Na grande maioria das vezes sem chances reais de serem eleitas.

A falta de capital político e a inexperiência partidária faz com que elas acreditem no “canto do sereio” e mesmo sem querer, dentro do jogo democrático, acabam por ajudar a eleger homens.

Funciona assim, o convencimento: um partido com dois ou três pré-candidatos considerados fortes e com bom capital político convence a mulher a se candidatar. Os argumentos são muitos e os dirigentes convincentes: você tem chance, você pode ser eleita, você pode ajudar o partido, vamos te ajudar no que for preciso!

Mas na prática é assim: a candidatura dessa mulher permite que mais três homens se candidatem, o partido trabalha pra reeleição dos mesmos nomes políticos tradicionais, investe majoritariamente em candidaturas masculinas e se beneficia dos votos dessas candidatas para engordar seu quoeficiente eleitoral e empossar seu representante.

Entender as chances reais de cada candidata passa por analisar o partido ao qual ela está inserida e traçar uma linha imaginária de votos. Essa linha pode ser: considerar a última eleição. Se na chapa daquele partido há dois ou mais homens com grandes chances de serem eleitos, e o partido não tem por histórico eleger mais que dois vereadores, sua candidata, por melhor que seja, ficará de fora. Ela com a melhor das intenções ajudará a manter o status quó.

Em situações diferentes estão as mulheres inseridas em partidos homogêneos e de chapas completas. Sem grandes nomes fora da curva eleitoral e com mulheres competitivas, esses pleitos devem receber nossa atenção especial na hora do voto. É nesse cenário que há uma maior probabilidade de se eleger uma representante feminina e é essa a análise fria que devemos fazer diante das urnas se quisermos eleger mais mulheres.

Ainda existem aqueles que garantem que eleições são “caixinhas de surpresa” e que tudo pode acontecer. É preciso concordar em certo ponto. A sociedade é dinâmica e pode se comportar de forma inesperada. O que proponho é uma reflexão sobre o tema. O resultado se confirmará, ou não, no dia 06 de outubro.