Ainda repercute a mortandade de peixes registrada na comunidade rural de Água Boa, no município de Presidente Juscelino, Médio-Baixo Rio das Velhas, após o início da noite do dia 06 de fevereiro, terça-feira. O Rio Paraúna foi atingido – consequentemente o Rio das Velhas – e moradores e autoridades ainda buscam respostas para o que aconteceu. O fato foi registrado no dia 08 deste mês.
Uma cabeça d’água atingiu a região e causou a movimentação do solo de uma área de aproximadamente 5 hectares, a uma profundidade média de 7 metros, sendo que o material desceu como um grande bloco de lama, destruindo árvores e tudo em seu caminho. As águas de cidades como Santo Hipólito, Lassance, Várzea da Palma, Curvelo e Presidente Juscelino registraram a mortandade no Rio das Velhas e afluentes.
Segundo Vilma Martins Veloso, presidente da Colônia de Pescadores Artesanais e Aquicultores de Barra do Guaicuí, os efeitos na região da foz do Rio das Velhas foram percebidos no dia 10 de fevereiro. Peixes mortos e mau cheiro foram constatados. “Moro na foz do Rio das Velhas. Esse fenômeno aconteceu no dia 8 de fevereiro, após muita chuva os rejeitos de uma fazenda desceram rio abaixo. A lama que desceu foi intensa. A Polícia Militar do Meio Ambiente de Curvelo esteve lá. No dia 10, chegou até nós muito peixe morto, com um mau cheiro horrível. À medida que o rio dava vazão, uma lama escura e gordurosa foi ficando para trás. À medida que secava, ficava cinza. E só temos o boletim de ocorrência. Os pescadores ficaram desolados. Já passou, mas é preciso fiscalizar”, ressaltou Vilma, também conselheira do Subcomitê Guaicuí, ligado ao Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas (CBH Rio das Velhas).
De acordo com boletim de ocorrência da Polícia Militar em Presidente Juscelino, na manhã do dia 8 deste mês, a topografia irregular do local e as características do solo, combinadas com as chuvas, resultaram na formação de uma enxurrada de lama em direção ao rio. Autoridades de Curvelo, incluindo o prefeito, o vice-prefeito, a secretária de Meio Ambiente e técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e da Defesa Civil compareceram ao local para avaliar a situação e tomar as medidas necessárias.
Segundo Simone Moreira Miranda Martins, Secretária de Meio Ambiente e Turismo de Presidente Juscelino, conselheira do Subcomitê Rio Paraúna, um laudo técnico será necessário para avaliar as características da água e os espécimes de peixes mortos. “Chuvas fortes carreiam rapidamente todo tipo de detrito e rejeito para os corpos d’água, além de liberarem matéria orgânica presa no estuário. Esse material sobe e provoca a morte de peixes por falta de oxigênio. A grande quantidade de rejeitos deslocados para o leito do rio alterou os parâmetros de qualidade da água, como temperatura, pH, oxigênio dissolvido, turbidez, salinidade e matéria particulada em suspensão. O primeiro passo para minimizar os impactos deste tipo de situação continua sendo a coleta e o tratamento dos esgotos domésticos e industriais”, considera Simone Moreira.
Após a chuva, parte do rejeito ficou acumulada sob uma ponte daquela região e o restante deste material seguiu seu caminho chegando ao Rio Paraúna, resultando em um “mar de lama” com uma força muito grande, com o desnível entre o ponto de ruptura e o encontro do rio sendo de cerca de 89 metros. O fato iniciou-se nas coordenadas geográficas -18.689697 e -44.045789 e terminou a 5,7 km do local. Com auxílio de um drone, foi realizado sobrevoo na área afetada para melhor mensuração do ocorrido e para produção de imagens do acontecido.
“Em decorrência do fato citado, ocorre que a grande quantidade de rejeitos deslocados ao leito do rio ocasionou uma mudança abrupta dos parâmetros de qualidade de água, como temperatura, pH, oxigênio dissolvido, turbidez, salinidade e matéria particulada e não particulada em suspensão na água, podendo ser o fator gerador da mortandade de peixes, sendo necessário laudo técnico confeccionado por autoridade competente para avaliar a água e os peixes mortos. Há suspeita de que os peixes tenham vindo a morrer por asfixia causada pelo excesso de sedimentos de solo em quantidade muito grande presente na água. Como o Rio Paraúna estava com o volume grande de água, percebemos que no dia seguinte estava tendo mais peixes morrendo”, explicou a secretária.
Por fim, segundo assessoria, “a Prefeitura Municipal de Presidente Juscelino, através da gestão municipal, Secretaria Municipal de Agricultura, Pecuária, Urbanismo, Meio Ambiente e Turismo, Coordenação do COMDEC e Defesa Civil municipal, EMATER, Epidemiologia, Engenharia, COPASA, todos se engajaram em fazer o acompanhamento do acontecimento e buscarem respostas e soluções para este fenômeno natural, que afetou o meio ambiente local, propriedades e ribeirinhos. A Polícia de Meio Ambiente foi acionada, foi realizado Boletim de ocorrência e juntamente foi realizada visita e vistoria por representante do Ministério Público”.
O que diz o Estado
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), por meio do Núcleo de Emergência Ambiental (NEA), informa que “tomou conhecimento da denúncia citada e, após vistoria realizada ao longo do rio Paraúna, no município de Presidente Juscelino, não constatou nenhum rompimento de barragem na região e nem a mortalidade de cardumes.
Em ação realizada em conjunto com a Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMAMB), foi constatado que as chuvas intensas que atingiram a região há alguns dias contribuíram para o “encharque” do solo, situação que potencializou o carreamento excessivo de material sólido e em suspensão para o leito do rio. Apenas alguns peixes foram encontrados mortos, devido aos sedimentos levados para o rio, que causaram mudanças abruptas e temporárias nos parâmetros de qualidade da água, como temperatura, PH e oxigênio dissolvido”.
Segundo assessoria, a Semad, por meio do NEA e em parceria com a PMMAMB, segue acompanhando a situação.
Celso Martinelli (CBH Velhas)