A ideia de liderança ESG se remete muito menos aos conceitos de líderes corporativos atuais e muito mais a uma liderança comunitária, muito representada em comunidades indígenas, quilombolas, ou em grupos de resistência. Isso implica, num líder que está a serviço de um propósito dentro de uma comunidade e não um líder que simplesmente está numa cadeira acima das pessoas. Repensar o modelo de liderança, é essencial, porque não tem como se pensar ESG, sustentabilidade, ou novas práticas, fazendo as coisas do mesmo modo.
Alguns trabalhos de etnografia, em comunidades indígenas, observam-se que a necessidade de unir esforços é essencial para a sobrevivência em condições muito adversas, que é a realidade desses povos, e a liderança nesses locais, nunca é uma presença opressora, no sentido tradicional da opressão, nunca desperta sentimentos de inquietude, porque no nervosismo de uma inquietude, ninguém consegue entregar uma melhor performance. Algumas pessoas até conseguem algum nível de entrega, mas nunca todo o potencial que poderia entregar. Outro ponto importante tem a ver com a cultura organizacional, esta precisa se adequar, onde não haja uma cultura de dominação, mas sim uma cultura de comunidade. A empresa precisa ser um espaço comunitário, e esse conceito remete a “todos estão no mesmo barco” e que a dinâmica precisa funcionar pra todo mundo. Portanto um bom líder com conceitos ESG precisa se espelhar em verdadeiros líderes comunitários, esse é o ponto.
Para implementar uma agenda ESG eficaz, o mais importante para um líder ESG, é o conhecimento e consciência de qual sociedade ele está inserido. É sabido e muito importante destacar, que nas lideranças das grandes empresas, ou até algumas vezes nas médias e pequenas, o perfil socioeconômico de líderes, não representa a totalidade dos brasileiros por motivos óbvios. E é muito comum que a realidade que essas pessoas vivenciam, é uma realidade apartada do restante do nosso país. O risco dessa situação encontrada nas empresas, é trazer comportamentos de um o líder que está “encastelado” na sua realidade e não consegue engajar em outras formas de viver e ser, esse líder não vai conseguir liderar uma transformação em ESG coesa, pois precisa enxergar além de si, além da própria realidade. Não podemos permitir que os privilégios e as oportunidades nos atrofiem como liderança. É muito comum no mundo corporativo haver uma limitação pelo privilégio, que nada mais é, o excesso de vantagens acaba tornando pessoas menos hábeis do que elas poderiam.
Reforçando, conheça a sociedade que você vive. Isso não significa que você precisa ser cientista social, economista, ou algo semelhante, mas ter um ouvido criativo, um olhar criativo, curioso para a realidade. Outro ponto de destaque é visão de longo prazo, existe um consenso atual no mundo corporativo, que resulta numa vontade de estabelecer metas muito agressivas num curto espaço de tempo, como se o mundo fosse depender disso. Muito também porque foi convencido da importância e compensar um período muito grande de inatividade, num curto tempo. E isso pode ser tanto na questão ambiental, quanto social e muitas vezes de governança. Pensar em algo de longo prazo tem a ver com vocação, construir uma etapa muito importante, é menos sobre mim e mais sobre o trabalho a longo prazo. Uma visão de longo prazo precisa trazer práticas que dialoguem com a realidade existente, e ao mesmo tempo transformar com lógicas incrementais, portanto, visão de longo prazo faz com que vejamos a empresa maturar na linha do tempo e decorrer dos anos. Isso não significa em andar devagar, tem coisa que são urgentes e precisam sim de ações imediatas. A habilidade do líder ESG é equilibrar essas duas realidades.
Todas as análises aqui trazidas, elas são mutáveis para a realidade de cada organização, de cada conjunto de pessoas. Voltado para as lideranças, alguns atributos, como curiosidade, inteligência social e cultural, pois hoje se fala muito de inteligência emocional, mas inteligência social e cultural é essencial. A inteligência social se define pela habilidade de se entender o mundo em que você vive, mas também ter consciência que alguns comentários, determinadas formas de pensar, têm menos aderência no espaço público de hoje e no mundo atual, do que teriam tempos atrás, e que podem causar danos à reputação, ou, se bem empregados, um ganho de reputação para uma empresa. Esses são atributos indispensáveis, e que cada vez mais se tornam realidade nas empresas e nas organizações que aderirem a jornada ESG.