O empresário José Roberto Silva se declarou recentemente como pré-candidato a prefeito pelo Partido Novo. Em entrevista ao Sete Dias, ele fala sobre sua trajetória, suas propostas e sua motivação para se candidatar.
Quem é?
José Roberto, mais conhecido como Zé Roberto, é graduado em Administração (Unifemm) e pós-graduado em Logística (PUC) e Gestão de Negócios (Fundação Dom Cabral), também possui formação técnica em Eletrotécnica que nunca chegou a exercer. É proprietário da Sete Lagos Transportes, já foi presidente da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Sete Lagoas e do Rotary Club de Sete Lagoas Boa Vista e vice-presidente do Observatório Social de Sete Lagoas. É pai de três filhos: Lucas, Camila e Roberta.
Sua história de vida é permeada por muita superação, dedicação e hombridade. Ele conta que nasceu em Papagaios, mas quando tinha dois anos seus jovens pais vieram para Sete Lagoas em busca de uma vida melhor para a família que estava começando. Na época sua mãe era do lar e seu pai, que ainda não tinha profissão definida, começou a ser entregador de pão de porta em porta. Anos depois, seu pai foi assassinado deixando três filhos, sendo que José Roberto era o mais velho. “Minha mãe começou a dar faxina e lavar roupa na casa das pessoas. Crescemos um pouco sem mãe, pois ela saía muito cedo e quando voltava muitas vezes já estávamos dormindo. Então foi uma infância muito, muito pobre, muito sofrida, mas a minha mãe sempre deu exemplo pra gente de muito trabalho, de muita honestidade, e sempre nos incentivou muito a estudar. Ela não teve oportunidade, mas ela sempre insistia e fez tudo que ela pôde pra gente estudar”.
Com esse incentivo, José Roberto estudou em várias escolas públicas da cidade e no tempo livre fazia pequenos serviços para ajudar nas despesas. Com 16 anos fez Senai e conseguiu seu primeiro trabalho de carteira assinada como ajudante em uma oficina mecânica. Aos 18, foi para o Nordeste passar dois anos como missionário voluntário da Igreja Mórmon. Na volta a Sete Lagoas, trabalhou como vendedor em uma loja esportiva e abriu uma fábrica de roupa íntima em sociedade com seu irmão. O negócio teve que fechar devido a uma crise e então ele entra para o mundo dos transportes.
Desempregado, uma prima o indica para vender fretes em Sete Lagoas para uma transportadora de Belo Horizonte, então ele e uma amiga se sua prima começam este novo empreendimento como preposto. Tempos depois, passaram a trabalhar também com uma transportadora de Contagem. José Roberto conseguiu uma vasta carteira de clientes e chamou atenção de um dos sócios da transportadora da Contagem que o propôs de montar uma transportadora somente para atender as cargas de Sete Lagoas e assim nasceu há 30 anos a Sete Lagos Transportes. Há 15 anos José Roberto é único CEO da empresa e ele conta que isso alavancou o crescimento: “O poder de decisão estava na minha mão e era mais rápido também, e eu com muita ambição, querendo crescer. Hoje nós temos quase 100 caminhões próprios, quase 500 funcionários entre CLT e terceiros, abrimos cinco filiais”.
SD Você é pré-candidato?
Então hoje eu sou o pré candidato, assim como mais dois pré-candidatos também do Partido Novo, o Saulo Calazans e o Julinho Sinonô, então nós três colocamos nossos nomes à disposição do partido, dos filiados, do diretório estadual e da presidência da Comissão Provisória aqui de Sete Lagoas. Não quer dizer que eu sendo um pré-candidato que eu vou ser o candidato escolhido, tudo isso ainda está sendo discutido, mas meu nome hoje é um dos pré-candidatos a prefeito do Partido Novo. Nós estamos estudando ainda se nós viemos em chapa pura ou se nós vamos vir com ligado com algum partido de direita.
SD O que te motivou a se candidatar?
Eu coloquei meu nome porque eu cansei de ficar indignado e ficar cobrando, criticando e vendo que a coisa não evolui. Eu já ocupei cargo de direção, de presidência, de liderança, no Rotary Club, no Observatório Social, agora recentemente na ACI, então em todos eles eu fiz um trabalho voluntário de líder, de presidente, de direção e os resultados alcançados sempre foram muito, muito expressivos. Então pela experiência que eu tenho, pela idade, pela formação, eu acredito que eu consiga fazer Sete Lagoas ser muito melhor do que é.
O que me deixa mais indignado é que Sete Lagos nos últimos quatro anos dobrou a receita de R$600 e poucos milhões, passou para R$1,3 bilhões. A folha de pagamento continua o mesmo percentual, em média de 48% da receita é para folha de pagamento. Então se fizer a conta tem aí um incremento na receita de pelo menos 150 milhões a mais e esse dinheiro a gente não vê sendo aplicado na cidade. Hoje as obras que acontecem são poucas obras, são obras mais de manutenção, manutenção de praça, manutenção de estrada, de avenida, de rua.
Você não vê uma construção de várias escolas, de várias creches, de hospital novo, você não vê nenhuma grande de obra nova e essas poucas obras de manutenção que acontecem hoje, a grande maioria delas são recursos da iniciativa privada, a maioria das praças são empresas que estão bancando. A própria Castelo Branco foi recurso da Vale, várias avenidas que estão sendo recapiadas e tal, pela iniciativa privada. Você pega quem tá chegando em Sete Lagoas, que pega a Castelo Branco, quando chega na Perimetral ali, o mato tem dois, três metros de altura. O turista ou o empresário que vem de fora para investir na cidade, ele assusta na principal avenida, que é a Perimetral, e aí ele vê o mato alto, a pavimentação da cidade toda ondulada, esburacada. Então, dá pra fazer muito mais, dá pra desenvolver muito mais. Sete Lagoas é uma cidade maravilhosa, porém mal cuidada. Então, essa indignação é que me fez filiar ao Partido Novo, querer contribuir, querer colocar o meu nome a pré-candidato, e eu tenho certeza que dá pra fazer muito mais. Eu estou querendo simplesmente ajudar Sete Lagoas. Eu não preciso da política para viver, não é vaidade de ser prefeito, é simplesmente querer contribuir, querer ver a cidade melhor. Tanto quanto estou querendo e, de alguma forma, ajudando também na política estadual e nacional em busca de ver um país, um estado melhor, e eu acredito que dá para fazer muito mais. E ficar só reclamando, eu aprendi que nós não vamos chegar a lugar nenhum, então eu quero me envolver pra poder ajudar.
SD Porque o empresariado demorou tanto para se lançar na política?
Bom, o principal motivo, eu acredito que seja porque a vida do empresário não é fácil. Ele acorda de manhã tendo que matar vários leões por dia, fica muito tempo ali focado no seu negócio, muitas vezes por questão de sobrevivência mesmo. Então eu acredito que o principal motivo do empresariado não entrar diretamente na política é exatamente a falta de tempo e a pressão da profissão. Como a minha empresa já está bem encaminhada, existe um pouco de conforto no sentido de confiar muito na diretoria e nos gestores, que são líderes bastante experientes e que a grande maioria tem muito tempo na empresa. Então eu tenho um pouco mais de folga para poder ajudar mais na política. Se eu fosse pensar em fazer isso há 10 anos atrás, era impossível. Mas hoje não, hoje a empresa já tomou um rumo que já dá para fazer. Temos muitos outros empresários que não podem ou não querem se candidatar, mas que também vão ajudar na gestão, no apoio, nas campanhas, enfim.
SD Douglas Melo declarou na entrevista ao Sete Dias que ele se candidatou à prefeitura a pedido do Governador e do vice. Você sendo do Novo, que é o partido do Zema e do Simões, o apoio do Estado fica pra quem, você ou Douglas?
Olha, a conversa que eu acredito que o Douglas tenha tido com o governo já tem algum tempo e que tenha sido uma conversa informal, quando ainda o Partido Novo não estava nem com formação de chapa. O Douglas é vice-líder do governo na Assembleia, e numa conversa informal eles devem ter perguntado do Douglas: ‘Você não vai candidatar lá em Sete Lagoas? Por que você não vem como prefeito lá?’. Foi uma informalidade no bate-papo ali, mas ao longo dessas últimas semanas o Partido Novo se consolidou na cidade, já tem uma formação de chapa completa para vereadores, uma formação possível para o executivo, e aí com certeza o Governador e o Vice-Governador, eles devem ter uma conversa com o Douglas para que o Douglas apoie o Partido Novo na cidade. Não acredito que o Douglas venha, até porque ele nem fez formação de chapa e não tem uma formação de chapa pelo partido dele em Sete Lagoas. Então a leitura que eu faço é que ele não deve vir candidato. Se fosse vir, com certeza ele formaria uma chapa de vereadores, mas não foi feito. Então acredito que ele virá apoiar o Partido Novo, quaisquer que sejam os candidatos, ele deve apoiar. Até porque numa conversa que eu tive com ele há uns dois, três meses atrás, ele me falou que na visão dele, Sete Lagoas precisa de um empresário, um gestor bem sucedido em gestão para conduzir a cidade. Esse era o desejo dele, ele queria apoiar alguém com esse perfil. Acredito que ele não mudou de ideia. E ele me disse na época que se ele encontrasse algum candidato com esse perfil, ele apoiaria. Por isso que eu conto muito com o apoio dele ao Partido Novo e a um dos nossos candidatos.
SD O Zema também saiu do empresariado e estreou na política já para o cargo de Governador. Por estar no mesmo partido, a trajetória dele te inspira de alguma forma?
Eu tenho no Zema um exemplo de cidadão e um exemplo de empresário pelo patrimônio, pela vida que ele tem, pela empresa que eles construíram, que saíram também bem pequenininho e se tornaram uma empresa gigantesca. E ele poderia estar com os filhos dele que moram na Europa, poderia estar curtindo a vida de luxo na Europa com os filhos. E poderia, mesmo no Brasil, viver uma vida de luxo, aposentado e, no entanto, indignado também com as mazelas da gestão pública, ele se ofereceu para entrar na política e ganhou e foi reeleito. Ele é um dos três ou quatro possíveis nomes que estão sendo ventilados para ser candidato a presidente em 2026. É admirável o desempenho dele, o resultado dele e as técnicas que ele usa para fazer essa gestão a meu ver é muito exitosa exatamente pela experiência que ele adquiriu, a formação escolar e a formação profissional de líder, de gestor, de administrador de trabalhar com metas, com indicadores, com números com a equipe técnica, equipe competente tudo isso que ele aprendeu na gestão da iniciativa privada ele levou pra gestão pública, claro, fazendo as devidas adequações e tem tido um resultado fantástico. Não deixa de ser um exemplo pra mim de cidadão, de ser humano, de empresário e de político agora. Penso que quem sabe também eu ou mesmo Saulo ou Juninho não podemos também seguir esse exemplo do Zema.
SD Você vem de dois mandatos como presidente da ACI e continua na diretoria. Como isso reverbera nas suas aspirações políticas?
Os números que eu consegui na ACI, juntamente com toda a diretoria, são muito exitosos. Nós aumentamos o caixa da ACI em mais de 20 vezes; mais que dobramos o número de associados; criamos, juntamente com a CDL e o Grupo Uai, a Feconex, a primeira feira da indústria, comércio de bens e serviços na história da cidade. Nós conseguimos vacinar mais de 20 mil industriários na época da pandemia, dentro do prédio da ACI, com a equipe toda de voluntários das empresas, que nós conseguimos mobilizar, fornecemos não só o prédio, mas toda a estrutura, voluntários, alimentação, onde o poder municipal apenas entrou com o coordenador da vacinação e vacina vinha do Governo Federal. Então, só para ficar em dois exemplos aqui, de muito êxito na minha gestão. Eu entreguei agora a minha gestão para a presidente Valéria e estou como vice com números muito exitosos. Então isso acredito eu que por parte dos associados, da diretoria e quem acompanhou essa gestão de quatro anos pode perceber a capacidade, o potencial que eu posso ter também na direção da cidade.
SD Na sua visão, quais os principais gargalos que Sete Lagoas enfrenta para alcançar maior desenvolvimento?
O que eu tenho visto é que Sete Lagoas não cresceu muito em população, não cresceu em número de indústrias, indústrias novas. Se pegar os últimos cinco anos não teve nenhuma grande indústria vindo para Sete Lagoas. Tem mais de cinco anos que veio a última delas, que foi a Fábrica de Latas da Ambev, inclusive veio por iniciativa da ACI. A Fábrica de Latas da Ambev era pra ir pra Mariana e o ex-presidente da ACI junto com Heloísa correram atrás da direção da Ambev e conseguiram reverter para Sete Lagoas. Acho que hoje a gestão pública peca muito exatamente pela falta de procurar a iniciativa privada, as entidades de classe, principalmente a ACI, que tem muitos contatos e ferramentas de conseguir trazer indústrias para a cidade. Hoje não há essa união, não há essa parceria, há um certo distanciamento, muito mais por falta da iniciativa do poder público. Precisa do poder público procurar a iniciativa privada e exatamente montar uma agenda de desenvolvimento da cidade.
SD Algo que queira acrescentar?
A única coisa que eu queria acrescentar é que o cidadão precisa se preocupar mais com política. Infelizmente, nós não fomos criados pelos nossos pais, escolas, o próprio governo, não nos educou para gostar de política, para nos envolver com política. Então hoje, quando se fala em política, a grande maioria dos cidadãos não gosta desse assunto, não quer discutir e isso prejudica muito o voto. Então eu quero pedir uma conscientização a todos os cidadãos da importância que nós temos, e principalmente também ao empresariado, de nos conscientizar da importância que temos ao participar mais da vida pública, participar do controle social, participar mais da cobrança dos vereadores, frequentar mais as reuniões da Câmara, se possível pelo menos assistir às reuniões pelas redes sociais, procurar os representantes da população, que são os prefeitos, para levar as suas demandas, acompanhar os gastos públicos. Para os empresários, participarem das licitações. A grande maioria das licitações de Sete Lagoas hoje não são ganhas por empresas de Sete Lagoas, são empresas de fora. Com isso, nós estamos levando todos os nossos recursos financeiros para outras cidades e outros estados. Eu gostaria de deixar essa mensagem para os cidadãos, da importância de nós participarmos mais ativamente da vida pública da cidade, se nós queremos uma cidade muito melhor para se morar, para se viver.
Por Ana Amélia Maciel