No último domingo, Sete Lagoas foi palco da tradicional Festa da Colheita, um evento de grande relevância para as religiões de matriz africana, realizado no Terreiro Nzo Kiambeta Njimbo. Com a presença de mais de 200 participantes de cidades como Belo Horizonte, Contagem, Betim, Santa Luzia e até do Rio de Janeiro, a festa destacou a crescente força cultural e espiritual da cidade.
A Festa da Colheita no candomblé, especialmente no culto Kongo Angola, é um ritual que louva os Nkisi relacionados à agricultura, à chuva e às bênçãos para uma boa colheita. Originalmente, a festa envolvia a preparação e oferta de alimentos aos deuses como agradecimento. Hoje, além dessa oferta, a festa celebra a partilha e a família, com as comidas sendo compartilhadas com os convidados. Esse aspecto de gratidão e reciprocidade é semelhante a festas de colheita em outras religiões, como o “Dia de Ação de Graças” no cristianismo e celebrações indígenas e pagãs.
O Terreiro Nzo Kiambeta Njimbo, sob a liderança do sacerdote Alexandre Souza, está em Sete Lagoas desde 2006 e há 8 anos no bairro Santa Felicidade. Alexandre, também sacerdote de umbanda, enfatiza a importância do evento e a resiliência da comunidade: “A Festa da Colheita não é apenas uma celebração religiosa, mas uma prova de que, com fé e união, podemos superar barreiras. Buscamos criar um espaço de acolhimento, respeito e transformação, combatendo o preconceito e promovendo nossa religião como uma prática de fé aberta a todos.”
A organização da festa envolve mais de 100 pessoas e começa quase um ano antes. Enquanto as atividades iniciam na sexta-feira e o sábado é reservado para rituais privados, o domingo é o dia em que o evento se abre ao público. A festa atrai visitantes interessados não apenas nos rituais, mas também na culinária africana, nas danças e nas vestimentas tradicionais, promovendo entendimento e respeito mútuos entre diferentes grupos.
Além das celebrações religiosas, o Terreiro Nzo Kiambeta Njimbo é um centro cultural vibrante, oferecendo oficinas de tambor, capoeira e samba de roda, além de cursos de informática, culinária, cinema e aulas online preparatórias para concursos. Essas atividades reforçam o terreiro como um espaço de transformação social.
O sucesso deste ano foi registrado pela fotógrafa Renata Ataide, cujas imagens capturam a espiritualidade e a riqueza cultural do evento. A cada edição, a Festa da Colheita ganha mais significado e impacto, reafirmando o Terreiro Nzo Kiambeta Njimbo como um importante centro cultural e religioso e consolidando Sete Lagoas como uma cidade cada vez mais comprometida com a diversidade cultural e espiritual.