O espetáculo No Centro da Margem, da companhia Ovorini Carpintaria Cênica, continua sua caminhada pelo Brasil e desembarca agora no agreste e no sertão de Pernambuco. A montagem, que tem como ponto de partida a cidade de Sete Lagoas, foi contemplada pela Bolsa de Circulação da Política Nacional Aldir Blanc por meio do Edital 09/2024 do município, e vem colhendo frutos importantes em sua trajetória.

Após passar por cidades mineiras e pelo estado do Piauí em 2024, o monólogo agora será apresentado em Arcoverde, Surubim, Caruaru e Garanhuns. O projeto também inclui ações formativas nas quatro cidades, aproximando ainda mais o público local da arte produzida no interior de Minas Gerais.
Inspirado livremente no conto A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa, o espetáculo propõe uma reflexão densa e poética sobre temas como preconceito, ausência paterna e masculinidade tóxica. O ator Alisson Oliveira assume sozinho o palco para dar corpo e voz a essas questões, misturando literatura e autobiografia em uma performance que toca fundo.

“Através da minha experiência como homem negro, busco trazer à tona questões urgentes e universais, como a homofobia e o apagamento de memórias. É fundamental que o teatro seja um espaço de debate e reflexão sobre os desafios da sociedade contemporânea”, afirma Alisson.
A montagem conta com direção de Alex Fabiano e dramaturgia de Djaelton Quirino, natural de Pernambuco. Segundo o diretor, a circulação do espetáculo ganhou força com parcerias locais: “Inicialmente, iríamos apenas apresentar em Arcoverde. Mas com o apoio do grupo Teatro de Retalhos, conseguimos expandir nossa rota. Estar voltando à terra natal do dramaturgo é simbólico e emocionante. É uma alegria levar o nome de Sete Lagoas a outros estados com um trabalho tão potente.”

Além das apresentações, o grupo também realiza a ação formativa “O corpo do ator em movimento”, em todas as cidades visitadas. A atividade compartilha o processo de pesquisa física e poética que deu origem à peça, promovendo o intercâmbio entre artistas e públicos de diferentes regiões.
Mais que uma turnê, a jornada de No Centro da Margem reafirma o valor dos editais de fomento à cultura e da descentralização dos investimentos públicos. Em cada cidade por onde passa, o espetáculo reafirma a arte como lugar de memória, resistência e transformação — um verdadeiro elo entre o “uai” de Minas e o “oxente” do Nordeste.