Élida Gontijo – Quem é ela?

por Élida Gontijo

Naquela manhã ela deu um pulo da cama, estava assustada, havia perdido a hora de ir para o colégio. Não havia despertador, pois seus pais nunca permitiram, tinha de acordar na hora certa, afinal sua obrigação era estudar. Quando chegou ao banheiro assustou , quem era aquela no espelho? O banheiro também não era o da sua casa.

No espelho uma mulher madura a olhava, via no seu rosto as marcas do tempo, perto dos olhos algumas rugas ou melhor linhas de expressão, afinal eufemismo é para estas horas. Seus cabelos já não eram castanhos, mas avermelhados, bem curtos, um corte bem diferente. Não estava entendendo nada, escovou os dentes, a mulher madura do espelho repetia seus movimentos, olhando sempre pra ela. Pentearam o cabelo juntinhas. Achou melhor correr para debaixo do chuveiro para acordar, achou que estava ainda dormindo, tomou um demorado banho, sabia que perderia as aulas aquela manhã e seria censurada por seus pais.

Olhou na bancada da pia viu inúmeros cremes, perfumes batons. Foi abrindo os batons , ficou admirada , tinha vontade de ter tantos batons para enfeitar seus lábios.  Lá estava a mulher observando. O pior foi quando voltou para o quarto, nele havia uma cama enorme, nada de cama de solteiro, nada de sua irmã , sua companheira de quarto. Na parede em frente a cama , estava uma foto da mulher do espelho, nela estava bem vestida e sorria.

Sentou na cama tentando organizar seus pensamentos, nenhum barulho dentro de casa, será que seus pais haviam saído? Lá fora no quintal cachorros latiam, as coisas pioravam, pois em sua casa não tinham cachorros. De repente escutou alguém batendo na porta do quarto, não teve coragem de responder, nem saberia o que responder, quem estava lá fora falou: 

_ Mãe não vai trabalhar hoje?

De repente sua cabeça girou, parecia passar um filme, tantas cenas, alegres, tristes, muitos personagens, alguns não via há muito tempo. Ficou um pouco tonta, voltou ao banheiro e no espelho reconheceu aquela mulher era ela, haviam passado muitos anos, a juventude ficou para trás, a mulher madura procurava se reconhecer, a voz lá fora insistia, ela respondeu que já estava indo, sorriu para imagem e disse:

_ Gratidão por me acompanhar por tantos anos e mostrar que a vida é feita de ciclos.

A mulher no espelho sorriu junto com ela, vestiu um vestido bem colorido, passou um batom vermelho e foi viver um novo ciclo.

   Élida Gontijo – março de 2025