segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Dor e saudades | por Élida Gontijo

Por Élida Gontijo

A chuva traz fartura , mas também traz prejuízo. Ela trouxe tristezas, levou
casas, memórias, sonhos, trabalhos de anos e anos. A enchente devastadora não
respeitou ninguém, as lágrimas misturaram com a enchente, por todo lado bombeiros,
pessoas navegando em busca das pessoas ilhadas.
Como não levar as fotos? A boneca que Papai Noel trouxe? O diploma
pendurado no quadro na parede? A imagem de Nossa Senhora Aparecida? O
cachorrinho companheiro fiel de todas as horas? Não há tempo, só se leva o que está
dentro: dor e saudades.
A solidariedade aflora no país inteiro, arregaçar as mangas, deixar tudo e ir
ajudar, abrir as carteiras, dividir o pouco ou o muito com quem não tem mais nada.
Solidarizar é o verbo mais usado no momento.
A cada noticiário compartilho minhas lágrimas com aquele povo tão sofrido, fiz
um pouco que podia para ajudar, mas queria acolher, principalmente crianças e idosos,
minhas paixões. Comunguei da fala de uma criança que disse que água iria abaixar, seu
coração puro tinha esperança e fé. Povo forte, gaúcho de bombachas, que ama o
chimarrão, mais uma vez enfrentando as enchentes.
A vida continua com ou sem enchentes, meu coração apertadinho continua se
compadecendo das vítimas e rezando, rezando, pedindo para chuva dar uma trégua.
Torcendo para os corações irem cicatrizando pouco a pouco.
Entre minhas palavras brota um fio tênue de esperança, que ele também
frutifique pouco a pouco.

Professora de Língua Portuguesa e Literatura e Escritora