segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Contagem rápida independente aponta vitória de González sobre Maduro na Venezuela

Metodologia inovadora desenvolvida no Brasil e EUA indica vitória de González com 66,2% dos votos, contrastando com os números apresentados pelo regime de Maduro.

Maria Corina Machado e Edmundo González declaram vitória na eleição da Venezuela — Foto: Maxwell Briceno/Reuters

Uma “contagem rápida” independente de votos da eleição venezuelana, à qual o g1 teve acesso, aponta uma vitória de Edmundo González Urrutia sobre Nicolás Maduro por 66,2% a 31,2%. Esta foi uma das quatro contagens independentes recebidas pela líder opositora María Corina Machado no domingo, indicando a vitória de González.

A pesquisa, batizada de AltaVista, baseou-se numa amostra estratificada de 971 seções eleitorais. Idealizada por uma ONG da sociedade civil venezuelana — cujo nome é mantido em sigilo devido a ameaças do regime a seus integrantes — a metodologia foi desenvolvida por cientistas políticos e estatísticos. Entre eles, assinam o relatório Dalson Figueiredo, da Universidade Federal de Pernambuco, Raphael Nishimura e Walter R. Mebane, ambos da Universidade de Michigan.

Nos últimos meses, a equipe revisou o histórico das seções de votação da Venezuela, verificando a tendência do eleitor em cada uma — pró-governo ou oposição. “O projeto visa, a partir de uma amostra estratificada de 1.500 centros, obter a transferência para o universo de 30 mil. Isso funciona em ambientes em que a integridade eleitoral está em xeque, como a Venezuela”, explica um dos integrantes do projeto.

O professor Dalson Figueiredo, da UFPE, destaca que a vantagem do método é considerar o peso histórico das seções conforme a sua orientação (mais governo ou mais oposição). Dos 1.500 centros previstos, 971 foram tabulados até agora porque, como denunciou María Corina Machado, houve dificuldades de acesso às atas.

Figueiredo explica que a ausência de dados foi prevista na elaboração da metodologia do AltaVista. “Desenvolvemos um algoritmo original para lidar com o problema da não-resposta. Nosso estudo foi previamente registrado na plataforma do Open Science Framework e todos os dados e scripts computacionais estão disponíveis para a consulta pública.”

Na Venezuela, um dos integrantes da ONG responsável pelo projeto conta que 1.500 agentes locais estiveram envolvidos na conferência das atas eleitorais. Para cada voto, a máquina eletrônica imprime uma cédula que o eleitor pode verificar, e essa cópia de papel é depositada numa urna. No fim da votação, é possível conferir se o conteúdo da urna bate com os dados transmitidos para o Conselho Nacional Eleitoral.

A missão dos representantes da ONG era fotografar a cópia do boletim e enviá-la para a plataforma, além de reportar os problemas enfrentados. As dificuldades começaram após o encerramento da votação, relata um dos diretores da entidade. “Houve um momento do processo em que o regime deu uma ordem para que não entregassem mais as atas aos fiscais independentes, possivelmente porque perceberam o nível da derrota. Ainda assim, conseguimos uma boa quantidade, que não comprometeu a confiança no resultado. Os números apresentados pelo regime são uma invenção”, assegura.

O presidente Nicolás Maduro se dirige a apoiadores reunidos em frente ao palácio presidencial de Miraflores depois que as autoridades eleitorais o declararam vencedor das eleições presidenciais na Venezuela — Foto: AP Photo/Fernando Vergara

A discrepância entre os dados do CNE e do projeto AltaVista é enorme. O órgão eleitoral controlado pelo regime chavista afirma que Maduro obteve 51,2% dos votos e González, 44,2%. A contagem rápida independente revelou a vantagem de González, com uma diferença de 34,9% para Maduro e margem de erro de 0,65%. Os números chegam perto dos 70% dos votos que María Corina Machado e Edmundo González dizem ter obtido.

A cifra apresentada pelo regime, sem comprovação das atas, não surpreendeu o grupo que coordenou a contagem rápida. A demora de seis horas na divulgação do resultado corroborou a tese de que o regime poderia virar o jogo caso estivesse em desvantagem.

Fonte: g1