O evento acontece no próximo domingo, dia 27 de outubro
Mau olhado, quebrante, espinhela caída, ventre virado. Quem um dia não “passou um ramo” para se curar desses males? O terço, na mão um galhinho de arruda ou alecrim, uma oração dita quase que sussurrando. Para quem já foi em uma bezendeira, essas cenas não são nada estranhas. Muitas vezes mulheres, elas são responsáveis por um processo de cura ancestral, um conhecimento passado há séculos por gerações de forma oral.
Pois é justamente esse universo que a banda Congadar fez homenagem em seu novo clipe, que terá uma sessão especial no próximo domingo, dia 27 de outubro. A banda vai realizar o pré-lançamento do vídeo no Teatro Redenção, a partir das 17h. Além de poder assistir o clipe em primeira mão, o evento ainda vai contar com uma roda de conversa com Mestres da Cultura Popular para falar sobre benzeção e a cura através do conhecimento ancestral. O evento será gratuito e não será preciso retirar ingresso antecipadamente.
Através da música “Benção prá Vovó”, a banda mineira traz como personagem principal a Dona Geralda Moreira, uma das mais antigas benzedeiras de Sete Lagoas. “Ela representa tantas outras benzedeiras que se dedicaram a vida para curar as pessoas de diversos males, sem cobrar nada”, aponta Carlos Saúva, vocalista e percussionista do Congadar. Se nas capitais a prática foi perdendo força, no interior do país ainda se forma filas nas portas das casas das benzedeiras. “Muitas vezes elas são as primeiras pessoas a serem procuradas para curar uma doença, seja pela benzeção ou pelos banhos de ervas”, destaca Saúva.
Assim como Dona Geralda, todas as pessoas que estão no clipe não são atores e as cenas retratam cenas reais de benzeção. “Procuramos mostrar da forma mais real, mesmo que poética, o processo da Dona Geralda benzer as pessoas”, explica o diretor do clipe, Lucas Gama, da O Conto Filmes. As imagens foram feitas no próprio quintal e no quartinho onde a benzedeira recebe as pessoas. “Tentamos interferir o mínimo no momento que ela benze as pessoas. O objetivo era mostrar Dona Geralda da forma mais natural possível, para poder retratar essa prática ancestral da forma mais real possível”, observa o diretor.
EP – A música “Benção prá Vovó” faz parte do último EP lançado pela banda em 2023, intitulado “Morro das Três Cruzes”, gravado de forma totalmente analógica por Lisciel Franco no estúdio ForestLab, localizado em Paty do Alferes, interior do Rio de Janeiro. Com quatro faixas totalmente autorais, através do encontro dos toques das caixas do congado mineiro com a guitarra, baixo e bateria, o Congadar fez um disco pautado pela força da ancestralidade negra. O afrorock da banda trouxe temas como a força dos Orixás ligados às questões sociais da população negra no Brasil.
O clipe, que foi realizado através da Lei Paulo Gustavo de Sete Lagoas, encerra o ciclo do EP Morro das Três Cruzes. A banda já prepara o lançamento do novo disco, que deverá sair ainda em dezembro deste ano. Serão 10 faixas, sendo 7 delas autorais, seguindo a temática do último EP. “Ao gravarmos o Morro das Três Cruzes, ficamos na vontade de fazer um disco completo com esse mesmo tema. Então, o novo álbum é uma sequencia do trabalho lançado em 2023”, relata o guitarrista e produtor da banda, Giuliano Fernandes.
CONGADAR
A resistência negra é uma marca no trabalho da banda. O repertório valoriza o congado mineiro, manifestação cultural que permanece viva em diversas comunidades espalhadas por MG. As músicas nasceram a partir da releitura de marchas do Congado mineiro, além de composições próprias, também inspiradas na cultura popular do estado. De um lado, o toque cruzado das caixas, os lamentos e marchas do congado entoados em três vozes. Do outro, a força da guitarra, baixo e bateria. A banda nasceu da soma de dois grupos, o Ganga Bruta+Congadar. Com o tempo, a busca por uma identidade única reuniu as forças das culturas em torno de apenas um nome, o Congadar.
Do Congado vieram as vozes principais, com Carlos Saúva, Filipe Eltão, Wesley Pelé e Bruno Batista. O quarteto traz a sonoridade de raiz africana com as tradicionais caixas de congo e percussões. Por outro lado, vieram do rock o guitarrista Giuliano Fernandes, o baixista Marcão Avellar e o baterista Sérgio DT. A proposta da banda é buscar uma nova linguagem com forte ligação nas raízes culturais de Minas Gerais. Além de Morro das Três Cruzes, o Congadar já lançou “Retirante”(2019) e Chora N’goma (2022), todos disponíveis nas plataformas de streaming.
