Buraco do bairro Santa Luzia: Secretaria de Obras esclarece o que está ocorrendo, mas moradores se sentem desamparados

Após 36 anos sob controle, solo cedeu novamente e cratera vem aumentando, deixando moradores receosos neste período chuvoso

Por Ana Amélia Maciel

Desde o ano passado o já famoso buraco do bairro Santa Luzia voltou a abrir e gerar transtornos para os moradores. Muito tem se especulado sobre o porquê da cratera existir, o que levou o solo a ceder novamente após tantos anos, se tem ou não relação com os tremores e o motivo da Prefeitura ainda não ter dado uma solução efetiva para o local. 

Secretário explica o que está acontecendo

O secretário de Obras, Antônio Garcia Maciel, mais conhecido como Toninho Macarrão, que é funcionário de carreira da administração municipal desde 1978, explica que o solo cedeu a primeira vez em abril de 1988, no primeiro mandato de Marcelo Cecé. Na época foi realizado um primeiro estudo que apontou que a causa do abatimento do solo era geológica, foi recomendado que não poderia tampar totalmente e então o buraco que estava cheio de água foi enchido com vários caminhões de pedras. 

Ano passado, quando houve um novo colapso, as equipes da Universidade Federal de Brasília (UnB) estavam na cidade para verificar sobre os tremores e chegaram a colocar o sismógrafo no local, mas não foi detectada nenhuma vibração diferente. Eles recomendaram que fosse realizado um novo estudo geológico que foi contratado pela prefeitura e por meio de sondas foi detectado que a cerca de 60 metros abaixo do nível do solo existe uma caverna localizada na parte onde está o campo de futebol e a loja de ração, já na parte de cima onde há um lote vago e o predinho não foi detectado caverna. 

Toninho explicou que o estudo também indicou que tudo começou com uma trinca imperceptível da superfície até a caverna pela qual foi infiltrando água ao longo dos anos e provocando erosão subterrânea até o colapso, como ocorreu em 1988 e em 2023. As águas das chuvas vão carregando solo e as pedras para dentro da caverna.

O engenheiro civil Cláudio Rodrigues de Andrade, que é morador de Sete Lagoas e especialista em Estruturas (UFMG) e em Geotecnia (PUC MG), doou para a Prefeitura, em 2023, um termo de referência para contratação de um estudo geotécnico. Segundo o secretário, é o estudo geotécnico que vai possibilitar mapear essa caverna, indicar as soluções efetivas para a cratera e investigar se o novo colapso tem relação com os tremores que ocorreram desde abril de 2022. “Nós não podemos agir de qualquer jeito e nem gastar dinheiro público de qualquer forma. Entramos em contato com quatro empresas, porém somente uma enviou orçamento. Vamos abrir um chamamento público para ver se conseguimos uma empresa para realizar o serviço”, relata o secretário. Com base nas recomendações técnicas, foram realizadas medidas para reduzir o volume e a velocidade da enxurrada que desce para o buraco e também a liberação do trânsito próximo ao lote vago.

Lagoas

Toninho Macarrão explicou que o histórico da cidade mostra que os abatimentos de solo existem desde os primórdios inclusive várias das nossas lagoas foram formadas assim: Nós temos as lagoas que são as dolinas, afundamentos que encheram de água, não teve ruptura, houve movimento de solo, ele abateu e fez uma bacia. Aqui temos muitas lagoas que não tem vertedouro, ou seja, afundou e está lá só a lagoa. Tem umas que são perenes e outras que são intermitentes, enche de água no período das chuvas e vai infiltrando, até que seca. Na região da Cidade de Deus podemos ver claramente uma lagoa fruto de afundamento do solo, já a lagoa do Náutico ela tem um córrego que a drena e deságua no Córrego dos Tropeiros”.

Moradores

No cruzamento das ruas Tupiniquins e Nestor Fóscolo a cratera está cada dia um pouco maior e tem assustado moradores, como a senhora Leila cuja família mora próximo ao local há mais de 60 anos: “Muito assustador para nós moradores aqui de perto. Acho que depois que começaram os tremores na cidade, desde o ano passado, isto deve ter ajudado neste episódio. Está péssimo para os moradores e ao comércio, sem contar com os problemas de usuários de drogas que ficavam à noite próximo ao buraco. Naquela época pelo menos fizeram uma contenção no mesmo e agora a cada dia que passa ele está pior e cedendo cada vez mais. O muro do campo está com trincas enormes e crescendo a cada dia, colocando em risco aos transeuntes que ali passam. E o pior é que os órgãos públicos não passam nada que vai ser feito e qual resultado dos estudos que fizeram depois do afundamento do mesmo. Ninguém nunca veio em minha casa e nem de vizinhos que conheço perguntar e fazer alguma vistoria no meu imóvel. E olha que não são tantas casas próximas ao buraco”.

A Secretaria de Obras e Defesa Civil, no entanto, alegam que as vistorias às margens do buraco e informação à população foi realizada. E que o muro de um imóvel foi demolido e substituído por um tapume. O dono deste imóvel, o comerciante Gilson, relata que por sorte não havia construção na quina do seu lote porque onde havia o muro já está dentro do buraco. Ele também reforçou que a prefeitura visitava frequentemente o local no ano passado, mas que as visitas cessaram. 

Gilson relatou ao Sete Dias que o local está um perigo quando chove forte pois tudo fica alagado e não dá pra saber exatamente onde estão os limites do buraco. “Pelo menos pegar uns caminhões de pedra e tampar isso aí eles podiam tampar e não deixar tão fundo, fazer umas passagens melhor porque os pedestres que passam já estão com risco de cair lá dentro. Antes era mais largo, mas com as chuvas as laterais já estão desabando, está começando a comer por debaixo a terra e daqui uns dias com mais chuvas cai pra dentro do buraco”, relata o comerciante.

Histórico

1988 – Solo cedeu pela primeira vez em abril, governo Marcelo Cecé realizou o primeiro estudo do local, encheu de pedras e fechou o trânsito de veículos

1989 – 1991 – Governo Sérgio Emílio realizou uma obra de paisagismo no local criando canteiros centrais no quarteirão da Rua Nestor Fóscolo, gradeando em torno do buraco e pintura na lateral do campo do Bela Vista.

1993 – Governo Múcio Reis realizou obra fazendo uma estrutura de metal e concreto, colocou suspiros para que os possíveis gases pudessem sair e fechou o buraco. Foi colocado o asfalto e liberado o trânsito.

2023 – Solo cedeu novamente, foi realizado novo estudo geológico, termo de referência geotécnico, monitoramento pela Defesa Civil, isolamento do trânsito com manilhas e contenção para água pluvial.

2024 – Previsão de estudo geotécnico e solução do buraco

Galeria de fotos