Brasil se prepara para liderar mineração estratégica na transição energética

por Janayna Bhering

Em meio à corrida global por minerais estratégicos que alimentam a transição energética, o Brasil se move para ocupar um novo protagonismo. O Ministério de Minas e Energia anunciou que, até o fim de 2025, o país terá uma Política Nacional para Minerais Críticos — um marco regulatório que pretende transformar o setor mineral em vetor de inovação, agregação de valor e sustentabilidade.

Anunciada pelo ministro Alexandre Silveira durante o Brazil-China Economic Summit, a política terá três pilares claros: estimular a mineração sustentável de baixo carbono, agregar valor à produção nacional e modernizar o licenciamento ambiental para projetos ligados a minerais críticos.

A urgência é evidente. Com reservas expressivas de lítio, cobre, nióbio, cobalto e terras raras, insumos centrais para baterias, turbinas e veículos elétricos, o Brasil está sentado sobre um ativo geopolítico de valor crescente. Mas transformar esse potencial em riqueza real exige mais do que extração: requer visão estratégica, regulação inteligente e investimento em inovação tecnológica.

A proposta vai justamente nessa direção. Ao buscar evitar a simples exportação de commodities e incentivar a industrialização local, o governo sinaliza uma mudança de paradigma. O foco agora é desenvolver a cadeia produtiva nacional, gerando empregos qualificados, promovendo pesquisa e atraindo capital estrangeiro com segurança jurídica.

Essa movimentação ocorre em sintonia com a demanda global. Com a aceleração da eletrificação de frotas, a expansão das energias renováveis e o reposicionamento geopolítico em torno de recursos estratégicos, investidores estão atentos ao que o Brasil pode oferecer.

O interesse já é tangível. A chinesa CMOC planeja ampliar seus aportes em nióbio. A Sigma Lithium, listada na Nasdaq, anunciou que dobrará sua capacidade de produção até 2025. A Vale, por sua vez, exportou 187 milhões de toneladas de minério de ferro para a China no ano passado. O que representa o apetite asiático pelos recursos brasileiros.

No entanto, atrair investimentos sustentáveis vai depender de algo mais: previsibilidade e credibilidade institucional. A revisão do licenciamento ambiental, se bem conduzida, pode acelerar projetos estratégicos sem abrir mão da proteção socioambiental, uma condição indispensável para que a mineração brasileira seja respeitada globalmente.

O que está em jogo é mais do que o reposicionamento de um setor. É a chance de o Brasil liderar, com responsabilidade, um novo ciclo de crescimento baseado em recursos críticos para a economia do futuro. Inovar, neste contexto, não é apenas desenvolver novas tecnologias, é repensar o papel do país no mundo e criar valor onde antes só havia extração.

Se bem executada, a política nacional para minerais críticos poderá colocar o Brasil na vanguarda da mineração sustentável, fortalecendo a soberania energética e industrial em um século que será cada vez mais definido por quem controla, e transforma, os recursos do subsolo.