Montagem da Escola Livre de Artes impressiona com atuações vibrantes, figurinos e expressões impecáveis. Crítica de Roberta Lanza.
A Escola Livre de Artes entregou ao público uma obra teatral que merece destaque pela qualidade técnica, estética e narrativa: “Aves – E a nova Babilônia Suspensa”. Sob a direção precisa de João Valadares, o espetáculo é fruto da pesquisa dos formandos do Curso de Formação Profissional e surpreende pela fusão entre uma crítica social contundente, atuações expressivas e um trabalho cênico impecável em figurino, maquiagem e expressão corporal.
A montagem traz à tona o humor ácido dos bufões, personagens que servem como espelhos críticos da sociedade. Através de uma linguagem debochada e direta, os atores conduzem o público por uma reflexão ácida sobre temas como corrupção, desmatamento e o colapso dos serviços públicos. A base do texto, inspirada em “As Aves”, de Aristófanes, ganha camadas adicionais com referências que incluem “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo, e discursos históricos, como o do Conde de Assumar. Tudo isso se mistura à poesia das palavras guaranis “Tupã Tenondé”, criando um enredo que é ao mesmo tempo atemporal e urgente.
O elenco apresenta atuações que beiram a perfeição em técnica e entrega. Edvan Henrique (Coruja/Beija-flor), Maria Maia (Maritaca), Mateus Vinícius Carvalho (Abutre), Júlia Karoline (Sariema) e Marina Ribas demonstram domínio absoluto do palco, com expressões cênicas vibrantes e precisão nos movimentos. Clarissa Nadú (Treme-treme), Pedro Cordeiro (Jacu Cigano) e Zahara Campos (Rola Bosta), alunos do Módulo 1, também entregam performances enérgicas e cheias de personalidade. O ator convidado Marcelo Drumonnd (Pomba) soma ao elenco com segurança e carisma, equilibrando-se entre o tom cômico e a crítica.
O espetáculo é um banquete visual. Os figurinos, orientados por Pedro Marota, traduzem com riqueza de detalhes a essência de cada personagem, utilizando cores, formas e texturas que dialogam com a narrativa dos bufões. A maquiagem é outro ponto alto, realçando as características caricatas dos personagens e reforçando a linguagem do teatro físico e visual.
A expressividade corporal do elenco, trabalhada com a orientação cuidadosa de Lorenzo Kaverna, é um dos maiores trunfos da montagem. Os atores utilizam o corpo como ferramenta principal de comunicação, em uma execução precisa que amplia o impacto da crítica e do humor. A iluminação, assinada por João Valadares e Nathan Brits, contribui para a atmosfera lúdica e crítica do espetáculo, compondo cenas visualmente marcantes.
Com “Aves – E a nova Babilônia Suspensa”, a Escola Livre de Artes prova mais uma vez sua capacidade de formar artistas completos e conscientes. A montagem é um exercício cênico de excelência, combinando a força das atuações com um trabalho impecável de direção, estética e construção dramatúrgica. Um espetáculo que ressoa como uma obra crítica e necessária, capaz de entreter e provocar ao mesmo tempo.
Veja fotos:
*Roberta Lanza é jornalista e pós graduada em Jornalismo Cultural. Acompanhe mais no Instagram @setediasderole.