Alcateia Política – Eleições 2026: A batalha entre algoritmos, desinformação e regulação

Inspirado pela minha participação no workshop “Processo Eleitoral e Inteligência Artificial: lições para ampliar a qualidade democrática do voto”, dentro do 15º Fórum da Internet no Brasil, escrevo este artigo como uma reflexão pessoal e provocativa sobre os desafios que enfrentaremos nas eleições de 2026. O evento, realizado pelo CGI.br e NIC.br, é hoje o principal encontro sobre governança da Internet no país, reunindo especialistas de várias áreas..

Como comunicador e observador atento da política e da tecnologia, saí do evento com uma certeza inquietante: enquanto a inteligência artificial avança a passos largos, a legislação, a fiscalização e a consciência social sobre seus impactos ainda andam a passos de tartaruga.

A IA corre, a democracia tropeça

A inteligência artificial já não é uma promessa futura — ela está moldando o presente. Com apenas alguns cliques, qualquer pessoa pode criar vídeos falsos, vozes sintéticas e mensagens hiperpersonalizadas que parecem reais. Isso muda tudo no jogo político.

O problema é que nossas leis, nossa capacidade de fiscalização e até mesmo nosso entendimento coletivo sobre o que está acontecendo ainda estão muito atrás. Como garantir a integridade de um processo eleitoral que pode estar seriamente em risco, influenciado por dinâmicas digitais e algoritmos de comunicação que moldam opiniões sem que a maioria das pessoas perceba ou compreenda?

 Não se regula o que não se entende

Esse talvez seja o ponto mais crítico de todos: só conseguimos combater aquilo que conhecemos. E hoje, uma parcela muito pequena da sociedade entende de fato como funcionam os algoritmos, os sistemas de recomendação, os robôs de conversa e os mecanismos que direcionam — ou distorcem — o debate público.

Se não sabemos como essas tecnologias atuam, como podemos criar leis para regulá-las? Como podemos garantir que o voto continue sendo livre e consciente?

Se você quer entender melhor o que de fato é (e o que não é) a chamada inteligência artificial, recomendo a leitura de um dos meus textos mais acessados no blog: “Inteligência Artificial Não Existe” (https://christianjauch.com.br/inteligencia-artificial-nao-existe/

Antes de pensarmos em soluções, precisamos entender a natureza do problema.

A crise de confiança nas informações

Vivemos um colapso do senso comum. Não há mais consenso nem sobre os fatos mais básicos. Cada pessoa é exposta a uma realidade diferente, moldada por algoritmos que entregam exatamente o que ela quer ouvir — ou pior, exatamente o que a fará reagir com raiva, medo ou indignação.

Isso torna o ambiente perfeito para a desinformação. E pior: a desinformação deixou de ser um problema colateral e virou estratégia central de muitas campanhas.

A política precisa reaprender a dialogar

Enquanto os algoritmos aprendem a falar como a gente — com memes, ironia, emoção — a política institucional muitas vezes ainda se comunica como se estivéssemos nos anos 1990. A linguagem precisa se reconectar com as pessoas, com o cotidiano, com o que é palpável.

Não adianta apenas criar leis: é preciso reconstruir pontes de escuta e fala que não dependam exclusivamente de plataformas e seus interesses comerciais.

Educação digital é urgente (pra ontem!)

Mais do que regras, precisamos de formação. Educação digital deveria ser política pública prioritária. As pessoas precisam aprender a desconfiar, a investigar, a comparar fontes e a questionar o que veem — especialmente em época de eleição.

Afinal, o voto só é livre quando é consciente. E a consciência exige informação de qualidade e pensamento crítico.

O que está em jogo em 2026?

Não é só quem vai vencer a eleição. É se essa escolha será de fato do eleitor — ou se será um reflexo de sistemas automatizados que manipulam dados e emoções sem que ninguém perceba.

Temos pouco tempo. A IA está se sofisticando. A manipulação está ficando invisível. E a legislação ainda está tentando entender qual é a pergunta.

Mas ainda dá tempo. Se a gente correr. Se a gente estudar. Se a gente debater. Se a gente agir.

Porque esse avião chamado democracia já está no ar — e não podemos deixar que ele caia em nuvens de desinformação e omissão.

Conclusão: ética, cultura digital e o peso da autorresponsabilidade

Se tem algo que ficou claro ao longo dessa reflexão é a frase da professora Marilda Silveira (IDP), dita no FIB15: “não existe ética onde não existe autorresponsabilidade”. O processo democrático não depende apenas de regras bem escritas ou de tecnologias bem usadas — ele exige consciência individual, postura crítica e vontade de se informar.

Um dos maiores desafios que temos no Brasil é cultural: a massa se digitalizou antes de se alfabetizar.

O acesso ao celular e à internet chegou antes do pensamento crítico, da leitura constante e da compreensão dos riscos. É por isso que vemos, todos os dias, pessoas caindo em golpes virtuais, acreditando com facilidade em fake news, e se envolvendo em esquemas de apostas como os “bets” e os famigerados “tigrinhos”.

Essa combinação — tecnologia sem formação — é um campo fértil para a manipulação e o colapso da democracia.

Portanto, que 2026 seja mais do que uma data eleitoral: que seja um marco de virada na forma como educamos, nos responsabilizamos e escolhemos o futuro que queremos construir.

Foto de Christian Jauch

Christian Jauch

Christian Jauch é publicitário com mais de 20 anos de experiência nas áreas de comunicação institucional, marketing político e branding. Atua como estrategista, articulando soluções que integram design, inovação, tecnologia e posicionamento de marca, sempre com foco em impacto, autenticidade e propósito. Com formação multidisciplinar e sólida base acadêmica, é MBA em Comunicação Governamental e Marketing Político pelo IDP Brasília, com especializações em marketing, design estratégico e inovação. É também membro da comunidade IA Skill, voltada ao estudo de novas tecnologias e à aplicação ética da inteligência artificial. É membro fundador da Alcateia Política, coletivo de estrategistas políticos, integrante do CAMP (Clube Associativo dos Profissionais de Marketing Político) e autor de diversos artigos especializados e coautor da série Comunicação Governamental e Marketing Político, publicada pela Editora IDP. Para mais informações acesse: www.christianjauch.c