Da Redação
A Liga Setelagoana de Blocos Carnavalescos mostrou força durante Audiência Pública realizada na Câmara Municipal, na última segunda-feira, 30. Organizadores e componentes das agremiações lotaram o plenário para debater o Projeto de Lei nº 245/2025 do vereador Ivson Gomes (PL), que tem a intenção de proibir a passagem de blocos carnavalescos em frente a igrejas católicas e evangélicas/protestantes no município. A sessão, presidida pelo vereador Rodrigo Braga (MDB) – presidente da Comissão de Educação, Desporto, Cultura e Turismo – foi marcada por manifestações acaloradas durante quase 2 horas e, por fim, os representantes dos blocos saíram com a promessa de que, mesmo se for a votação, a matéria será reprovada pela maioria.

O movimento foi motivado, principalmente, pela justificativas do projeto que colocam o as manifestações de cunho carnavalesco como sinônimo de desrespeito às instituições, a comunidade e ao patrimônio histórico da cidade. “Nos últimos anos, tem-se observado, em diversas manifestações carnavalescas, uma sucessão de abusos que extrapolam os limites da celebração e atingem diretamente o respeito ao patrimônio histórico, cultural e religioso do município. É recorrente a presença de foliões desnudos ou seminus, promovendo condutas de cunho lascivo, inapropriadas para o espaço público. Além disso, é inegável o problema de depredação e sujeira gerado por muitos desses blocos, que, sem qualquer controle ou fiscalização adequada, tornam as calçadas e fachadas dos templos locais de descarte de lixo, urina e fezes”, alega o vereador Ivson Gomes.
A Liga avalia que, se transformada em lei, a matéria teria forte impacto cultural e ainda colocaria em risco o movimentado pré-carnaval da cidade. Rodrigo Barbosa, representante da Liga, fundador do Bloco Axé Saudade e presidente do Conselho Municipal de Política Cultural agradeceu a oportunidade de diálogo e fez críticas ao projeto que, na sua opinião, não foi embasado pelo histórico de manifestações carnavalescas na história de Sete Lagoas. “As justificativas apresentadas nos assustaram e geraram tristeza, desespero e desconforto. Fez pensar em tudo que a gente faz, entrega e representa. O respeito sempre existiu. Cerca de 80% dos blocos têm laço familiares e, por isso, é muito pesado ler tais argumentos. Onde foi esse Carnaval? Onde estão as ocorrências para provar tais acusações”, indagou.
O projeto também foi criticado pela falta de coerência já que seu escopo não cita outras manifestações religiosas como as de matriz africana ou da doutrina espírita. Além disso, a proposta não define parâmetros básicos para a proibição como distâncias dos templos ou horários. “O Carnaval é cultural e a maior festa popular do planeta. Não podemos nos colocar sobrepostos a uma ideologia religiosa, são somente religiões específicas que merecem respeito? Além disso, de todos os carnavais que vivi em Sete Lagoas, nunca vi uma balbúrdia como foi justificado no projeto”, disparou produtor cultural, Luiz Gustavo.
Mesmo diante das manifestações contrárias, o vereador Ivson Gomes não demonstrou a intenção de retirar o projeto de pauta, pelo contrário, defendeu a proposta. “Audiência é o espaço ideal para ouvir a população. A lei é boa! A proibição existe para se manter a ordem social”, comentou. Porém, na conclusão dos debates, o vereador Rodrigo Braga, presidente da sessão, foi enfático: “Se o autor não retirar o texto, a alternativa será sua derrubada. É um projeto inconstitucional e não representa os interesses debatidos aqui. Carnaval é cultura, é direito do povo”, declarou. Também estiveram presentes os vereadores Heloísa Frois (Novo), Deyvison da Acolher (Solidariedade), Walisson Lelé (Rede) e Thiago Santana (Republicanos). O secretário municipal de Cultura, Esportes e Turismo, Cláudio Raposo, representou a Prefeitura de Sete Lagoas.