Os animais já foram avistados em municípios como Conceição do Mato Dentro, Morro do Pilar, Itambé do Mato Dentro, Santana do Riacho, Jaboticatubas, Taquaraçu de Minas, Nova União e Itabira

A biodiversidade da Serra do Espinhaço, que abrange territórios de Minas Gerais e Bahia e abriga o Parque Nacional da Serra do Cipó (PNSC), está sob ameaça devido à presença crescente de javalis e javaporcos – espécie híbrida do cruzamento entre javali europeu e porco doméstico. Segundo alerta de especialistas, a região entrou em “alerta máximo” por conta do avanço dos animais.
De acordo com reportagem do jornal Estado de Minas (em.com.br), publicada nesta segunda-feira (09/06), 31 avistamentos de javaporcos já foram registrados em oito municípios no entorno da Serra do Espinhaço, incluindo áreas protegidas como o Parque Nacional da Serra do Cipó e a Área de Preservação Ambiental (APA) do Morro da Pedreira.
A gestora do ICMBio responsável pelas unidades de conservação, Romina Belloni, destaca os riscos trazidos pela espécie invasora. “Sem predadores naturais e com muitas fontes de alimento disponíveis, eles se reproduzem rapidamente e causam impactos na agricultura, na economia, no turismo, na conservação ambiental, além de causarem doenças nos animais e na população”, afirmou.
Ameaça crescente
Os animais já foram avistados em municípios como Conceição do Mato Dentro, Morro do Pilar, Itambé do Mato Dentro, Santana do Riacho, Jaboticatubas, Taquaraçu de Minas, Nova União e Itabira. Segundo moradores, há suspeitas de criadouros clandestinos ainda em atividade na região.
Para conter a ameaça, o ICMBio lançou a campanha “Espinhaço sem Javali”, em conjunto com prefeituras, ambientalistas e produtores rurais. O objetivo é mapear as ocorrências e realizar o abate controlado, com a ajuda de caçadores autorizados.
Impactos na agricultura
Moradores relatam prejuízos diretos nas plantações. João Rodrigues de Oliveira, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Morro Alto, teve sua lavoura de mandioca destruída. “Do dia para a noite, eles destroem tudo. Até desisti de plantar lá”, contou.
O secretário de Cultura e Turismo de Morro do Pilar, Douglas de Oliveira Santiago, também teve perdas com javaporcos e alerta para a rápida expansão da espécie: “Está ficando assustador. Eles já chegaram a Pedro Leopoldo e se alimentam do coco indaiá, que é abundante por aqui”.
Apesar do potencial risco, Santiago acredita que o turismo não será afetado, já que os animais são ariscos e têm hábitos noturnos. Mesmo assim, a orientação do ICMBio é que, ao avistar um javali ou javaporco, a população informe imediatamente os órgãos ambientais e evite qualquer aproximação.
Situação no estado
Minas Gerais está entre os estados com maior número de registros da espécie invasora. Em 2022, o Ibama identificou javalis em 198 municípios mineiros, sendo 64 considerados de prioridade extrema para o controle ambiental, como Itambé do Mato Dentro, Morro do Pilar e Jaboticatubas.
Desde 2013, o abate controlado é permitido por lei, mas requer autorização do Ibama e, em caso de uso de armas de fogo, registro como CAC (Colecionador, Atirador e Caçador) junto à Polícia Federal. As autorizações, suspensas em 2024 por irregularidades, voltaram a ser emitidas no fim do mesmo ano.
O cruzamento com porcos domésticos aumentou a resistência e a reprodutividade dos animais. Fêmeas podem gerar até 24 filhotes por ano, com duas ninhadas de até 12 crias cada. O risco, segundo ambientalistas, é de uma proliferação incontrolável, como já ocorre no Parque Nacional da Serra da Canastra, onde javalis causam danos severos à fauna e à produção agrícola.
Legislação em debate
Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), tramita o Projeto de Lei 1.858/2023, que busca normatizar o controle populacional dos javalis e javaporcos em todo o estado. O deputado Leonídio Bouças (PSDB), autor do pedido de audiência pública sobre o tema, defende um debate técnico e despolitizado: “Precisamos apontar soluções para a proliferação dos javalis, que afeta a produção, o meio ambiente e a saúde pública”.