por Chico Maia

Imagem: x.com/CBF_Futebol
Nessa loucura do futebol, que é uma grande lavanderia mundial de dinheiro, ele vem com salário de R$ 5 milhões por mês, mais apartamento chique e outras regalias que serão pagas pela CBF. Nada demais, se compararmos com salários de alguns jogadores atuando em nosso futebol, como o holandês Depay, no Corinthians, Gabigol no Cruzeiro e vários outros.
Tão logo a CBF oficializou o nome do italiano, postei minha opinião no twitter: Sei não! Sem dúvida, um grande treinador. Mas será que vai se ajeitar nos bastidores e subterrâneos do futebol brasileiro e suas mazelas?
Logo em seguida, vi uma twittada esclarecedora do Júlio Gomes Filho, um dos jornalistas que mais respeito no Brasil, que conhece muito do futebol mundial, europeu, principalmente.
Há exatamente três anos, em 1º de maio de 2022, ele escreveu uma coluna no Uol, em que sugeria o nome do Ancelotti para substituir Tite, que deixaria o cargo depois da Copa daquele ano no Catar.
Vale demais a pena reler. Mostra o perfil do italiano, dentro e fora dos gramados. Baseado no que li do Júlio, concluo que ele vai se ajeitar sim às mazelas verde e amarelas.
Confira:
@juliogomesfilho
Esse post aqui é de 1 de maio de 2022.
Por que não pensar em Ancelotti, campeão em cinco países, na seleção?
Qualquer técnico brasileiro sonha em ser o treinador da seleção brasileira e largaria tudo pela chance (menos Muricy). Mas a realidade não é a mesma lá fora.
A Argentina nunca conseguiu convencer caras como Simeone, por exemplo. Na Europa, é a mesma coisa. O universo de clubes é mais valorizado do que o universo de seleções. Com a saída de Tite após a Copa e a onda de treinadores estrangeiros no futebol brasileiro, é grande a chance de a CBF ir atrás de um importante nome internacional. Sabemos que Guardiola e Klopp, os melhores, não são viáveis. Por que não pensar em Carlo Ancelotti no comando da seleção?
Campeão espanhol com o Real Madrid, neste sábado, Ancelotti tornou-se o primeiro técnico a triunfar nas cinco principais ligas domésticas da Europa. Com o Real, havia sido campeão europeu na primeira passagem (2014), mas não do Espanhol. Antes, fora vencedor também na Itália (Milan 04), Inglaterra (Chelsea 10), França (PSG 13) e Alemanha (Bayern 17). Curiosamente, a variedade de títulos chama mais a atenção do que propriamente a quantidade. E isso fala muito sobre a personalidade de Ancelotti. Ele nunca foi um cara de colocar o ego por cima de tudo, criar atritos, atropelar obstáculos ou quebrar marcas, chegar a recordes, bater no peito.
Chegou ao Bayern para ficar por três anos. Ganhou praticamente tudo no primeiro, aí alguns caras do elenco não gostavam de ficar no banco e começaram a dar problema. O que faz Ancelotti? Não compra brigas, não vai à imprensa, não faz “de tudo” para ficar no cargo. Simplesmente, aceita e se manda.
Algumas decisões de carreira até podem ser contestadas. Poderia ter ficado mais aqui ou ali, não ter pego este ou aquele clube. Mas o fato é que Ancelotti sai “bem” de todos os lugares. É um agregador, não um destruidor nos ambientes em que trabalha. Gosta tanto disso que justifica assim o fato de nunca ter assumido uma seleção nacional: “Já pensei algumas vezes no assunto, tive a chance em 2018, com a Itália (após a Azzurra ficar fora da Copa). Mas tenho de ser honesto: gosto muito do dia-a-dia. Eu não gosto só dos jogos, eu gosto do trabalho diário. Enquanto isso for assim, será difícil eu assumir uma seleção. Não gosto de trabalhar três vezes por ano.
A experiência de uma Copa do Mundo foi fantástica, espetacular, mas, quando o desejo de trabalhar todos os dias acabar, eu paro”. Em 94, um recém-aposentado Ancelotti (parou de jogar em 92, quando estava no Milan) foi assistente de Arrigo Sacchi naquela Itália vice-campeã do mundo. No ano seguinte, começou o voo solo. Treinou Reggiana, Parma, Juventus, Milan, Chelsea, PSG, Real Madrid, Bayern, Napoli, Everton e, quando a carreira começava a apontar para baixo, voltou para o Real – e para ser campeão. Não considero Ancelotti um gênio tático, basta ver como o Real Madrid tem sofrido coletivamente em duelos da Champions League.
É um treinador simples, básico, quase. Às vezes, o que um jogador e um time precisam é do básico mesmo. Do tipo: colocar Vinícius Jr para jogar sempre, não só às vezes. Um técnico que tem algumas virtudes importantes, que o próximo treinador da seleção, principalmente se for estrangeiro, tem que ter. É muito calmo, muito tranquilo, consegue ter uma relação saudável com imprensa, cria ambientes tranquilos onde trabalha, adapta-se muito aos diferentes países, fala idiomas, conhece estrelas e sabe lidar com egos. Não é muito diferente de Tite, por exemplo, no jeito de ser.
Tem mais: no histórico, tem grande relacionamento com jogadores enormes da seleção (Cafu, Kaká, Dida, etc, etc, etc), que poderiam ajudá-lo em vários aspectos. A lista é longa, até por ter passado por tantos clubes importantes da Europa. Queremos um técnico estrangeiro para revolucionar o futebol brasileiro, trazer táticas atualizadíssimas e mexer no futebol de base, nos conceitos, no imaginário popular? Aí, realmente seria necessário buscar outro nome. Queremos um técnico estrangeiro que faça uma transição suave, que se esforce para compreender o Brasil e o brasileiro, que conquiste a confiança geral e ganhe uma Copa do Mundo? Eu pensaria em convencer Carletto.
Júlio Gomes Filho
https://www.uol.com.br/esporte/colunas/julio-gomes/2022/05/01/por-que-nao-pensar-em-ancelotti-campeao-em-cinco-paises-na-selecao.htm