Crítica de *Wellberty Hollyvier D’Becker.
O que poderia dar errado em um filme escrito e dirigido pela lenda viva do cinema Francis Ford Coppola, com um elenco estrelado que inclui Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Shia LaBeouf, Aubrey Plaza, Jon Voight, Talia Shire e Laurence Fishburne? A equipe técnica também é excelente e premiada com vários Oscars: Samantha Avila e Brittany Hits como diretoras de arte; figurinos a cargo da lendária Milena Canonero; e design de produção de Beth Mickle. Com um elenco tão talentoso, uma equipe técnica tão premiada e um projeto de mais de 25 anos do diretor, parecia impossível algo dar errado. Mas, por incrível que pareça, deu muito errado.
O primeiro passo de um filme é o roteiro, que liga o ponto A ao ponto B, contando ou narrando a história. Tratando-se de Francis Ford Coppola, em seu último longa financiado por ele próprio, vendendo parte de sua vinícola, era de se esperar uma obra-prima no nível de Apocalypse Now, O Poderoso Chefão ou Drácula de Bram Stoker. O que vimos, no entanto, foi algo no nível de Jack, pavoroso filme do diretor com Robin Williams. Entre o ponto A e o ponto B, há inúmeros problemas.
Minha coluna é curta, então não posso citar todos os problemas do filme, mas vou destacar os mais evidentes. Mencionei Drácula de Bram Stoker, que Coppola fez com orçamento limitadíssimo, poucas locações e um elenco maravilhoso. O filme é considerado por muitos um dos mais bonitos da história do cinema. Então, por que Megalópolis, com elenco, ficha técnica e um orçamento de 120 milhões, é tão ruim?
Primeiro, o roteiro é confuso e rocambolesco. Os figurinos são horríveis, alguns dos piores que já vi no cinema. Não sabemos em que época o filme se passa, com câmeras de 1920 e figurinos de 1800 misturados a elementos futuristas. O elenco oscila entre o risível e o caricato. Adam Driver, que já provou ser um grande ator, oferece aqui uma atuação dantesca. Jon Voight, cujo maior mérito é ser pai de Angelina Jolie, fez alguns bons trabalhos, mas nada lendário. Anaconda, com Jennifer Lopez, consegue ser melhor que Megalópolis — e isso não é brincadeira.
Nathalie Emmanuel interpreta Julia Cícero, filha do prefeito e rival de César Catalina, papel de Adam Driver. O prefeito, interpretado pelo magistral Giancarlo Esposito, é uma caricatura sem tamanho. Temos atores bonitos, lindas atrizes e o cenário de Nova York como nova Roma, mas o filme é definitivamente feio.
Este ano, em 2024, três lendas se despedem do cinema: Clint Eastwood, com Jurado Número 2, aos 94 anos; Woody Allen, com Golpe de Sorte em Paris, seu 50º filme, aos 89 anos; e Francis Ford Coppola, com Megalópolis, aos 85. Os dois primeiros fizeram ótimas despedidas. Coppola, infelizmente, não. O mesmo aconteceu com Stanley Kubrick em seu decepcionante De Olhos Bem Fechados.
Nenhum cineasta acerta sempre. Woody Allen, por exemplo, fez Roda Gigante, um filme sem pé nem cabeça. Clint Eastwood nos brindou com a pérola Perversa Paixão. Faz parte. Coppola se inspirou na cidade de Curitiba para escrever o roteiro de Megalópolis, considerando-a uma das mais bem planejadas do mundo e um pouco futurista.
Podemos chamar esses três últimos filmes de epitáfios. O mais fraco, sem dúvida, é Megalópolis. Suas frases de grandes pensadores antigos são irritantes, a trilha sonora não acrescenta nada e a iluminação é confusa. O filme está disponível no Looke. Nota: 3/10.